Hackers russos teriam supostamente tentado invadir centros de pesquisa que buscam desenvolver uma vacina contra o coronavírus, nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Canadá.
A denúncia partiu de organismos de inteligência desses países, mas a Rússia nega. Chama a atenção que a suposta tentativa de invasão ocorre no momento em que o governo de Vladimir Putin anuncia a entrada na corrida pela vacina contra a covid-19. Veja o que se sabe até o momento sobre o episódio.
O que houve?
Um grupo de hackers supostamente ligado ao serviço de inteligência russo teria tentado roubar informações sobre projetos de vacina contra a covid-19 que estão em desenvolvimento em centros de pesquisas de três países: Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.
Os hackers usaram malwares e enviaram emails fraudulentos para tentar convencer as pessoas ligadas aos centros de estudos a entregar senhas e outras credenciais de segurança com o objetivo de acessar pesquisas e informações sobre cadeias de suprimentos médicos.
Quem está denunciando?
Autoridades de segurança cibernética de Reino Unido, Estados Unidos e Canadá, com os britânicos à frente, o National Cyber Security Centre (Centro Nacional de Segurança Cibernética, conhecido pela sigla NCSC).
Que grupo de hackers é esse?
As ações teriam sido deflagradas pelo Cozy Bear, velho conhecido das agências de cibersegurança pelo mundo. O grupo aparece em relatórios sigilosos como APT29 (Advanced Persistent Threat, ou ameaças avançadas persistentes). Essa sigla serve para representar grupos que acessam clandestinamente redes de outros países, normalmente financiados por agências governamentais, no caso russo, a GRU (maior agência de inteligência militar do país governado por Putin). Essa agência é muitas vezes mais poderosa que o SVR, sucessor da direção de operações no exterior da antiga KGB.
Segundo os Estados Unidos, o APT29 tem longo histórico de atuação hacker contra organizações governamentais, diplomáticas e centros de estudo para obter ganhos de inteligência. Sua primeira ação foi detectada em 2014, quando houve a invasão de um instituto de pesquisas de Washington.
Seu feito mais famoso, no entanto, foi em 2016, quando esteve envolvido nos ataques contra o Comitê Nacional do Partido Democrata durante a campanha presidencial dos Estados Unidos. À época, eles divulgaram milhares de emails da candidata Hillary Clinton e de outros membros da legenda, repassando-os para o Wikileaks. Supostamente, teriam influenciado a favor da eleição de Donald Trump.
Esses hackers estão ligados ao Kremlin?
Não há confirmação ou prova concreta conhecida, mas a Agência de Segurança Nacional dos EUA os classificam como parte do aparato de inteligência do governo russo. O governo americano considera os hackers russos a maior ameaça às eleições de novembro. Muitas das vulnerabilidades exploradas pelos hackers em 2016 permanecem. Campanhas políticas nos Estados Unidos não se mostram dispostas a gastar o necessário para colocar em ação defesas cibernéticas eficazes - a proteção acaba ficando por conta de agências governamentais.
Outros governos também têm sido alvo de hackers russos. No ano passado, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou ter provas de tentativas de invasão dos sistemas do parlamento e do Ministério das Relações Exteriores do país, em 2015.
Os ataques prejudicaram as pesquisas sobre a vacina?
Especialistas acreditam que os ataques causaram poucos prejuízos. Os hacker estariam apenas tentando copiar informações e não atrapalhar o avanço das vacinas. Ponto importante: o suposto ataque ocorre em um momento em que a Rússia entrou na corrida pela vacina. Na quarta-feira (15), o país anunciou que também está desenvolvendo uma substância contra a covid-19. O governo disse que fez os primeiros testes clínicos em seres humanos. No país, o desenvolvimento é feito pelo Ministério da Defesa e o Centro de Pesquisas em Epidemiologia e Microbiologia Nikolai Gamaleya.
O que diz o governo da Rússia sobre o suposto ataque?
O porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dmitri Peskov, disse que o governo não tem conhecimento ou envolvimento em tentativas de hackers de roubar as pesquisas.
- A Rússia não tem nada a ver com essas tentativas.