Há vários aspectos desconhecidos sobre como a China gerenciou a crise do coronavírus.
A falta de transparência inicial pode ser apenas a ponta do iceberg. Nos últimos dias, França, Estados Unidos e Reino Unido elevaram a pressão, exigindo explicações do governo chinês sobre a origem e o desenvolvimento da surto que se tornaria uma pandemia.
O secretário de Estado americano, Mike Pence, disse que o governo dos Estados Unidos está realizando uma investigação exaustiva sobre como o vírus se propagou, contaminou o mundo e provocou tamanha tragédia, dando a entender que a Casa Branca não exclui a hipótese de que a doença possa ter surgido em laboratório de Wuhan.
Na quarta-feira, The Washington Post informou que a embaixada dos EUA em Pequim havia alertado o Departamento de Estado dois anos atrás sobre medidas de segurança insuficientes em um laboratório de Wuhan que estudava o novo coronavírus em morcegos. A reportagem um jornal independente como o Post foi rapidamente sequestrada para dar corpo à narrativa de veículos conservadores alinhados ao governo Donald Trump, como a Fox News.
A falta de provas alimenta teorias da conspiração. É óbvio que não há mocinhos nessa disputa - as declarações americanas estão no contexto do conflito comercial com Pequim e a ameaça que a ascensão da China representa para a hegemonia americana no planeta. Mas há muito a explicar por parte do Partido Comunista Chinês, que, segundo uma reportagem da CNN divulgada esta semana, tem imposto restrições às publicações de pesquisas acadêmicas na China sobre a origem do vírus. De acordo com uma diretiva do governo central e avisos online publicados por duas universidades chinesas, todos os trabalhos acadêmicos sobre covid-19 estão sujeitos a exames adicionais antes de serem submetidos para publicação. Um especialista em medicina de Hong Kong entrevistado pela reportagem contou sob anonimato que, para publicar uma análise clínica dos casos da doença em um periódico médico internacional, precisou submeter seu trabalho a uma análise não convencional em fevereiro.
A diretiva estabelece várias camadas de aprovação dos trabalhos, começando por comissões acadêmicas das universidades, que devem então enviar os trabalhos ao departamento de ciência e tecnologia do Ministério da educação, que encaminha os documentos para força-tarefa do conselho de estado. Somente depois que as universidades receberem resposta da força tarefa é que os trabalhos podem ser submetidos a periódicos.
A China pode não ter criado o vírus, como dizem os adeptos das teorias conspiratórias, mas tudo indica que está tentando controlar a história que será contada sobre sua origem.