A propagação do coronavírus testa a reação de governos mundiais. Na China, país onde nasceu o vírus, o Partido Comunista, liderado pelo presidente Xi Jinping, comemora o que seria o fim do pico da doença. Na Coreia do Sul, o governo quase sofreu processo de impeachment pela resposta tardia à covid-19. Atualmente, é vista como exemplo de detecção e combate ao vírus em oposição à Itália, onde faltou coordenação.
A União Europeia tenta uma resposta conjunta, depois que alguns governos anunciaram, isoladamente, o fechamento de fronteiras. Nos Estados Unidos, Donald Trump reage tardiamente, mas coloca em ação a máquina americana para tentar frear a doença e evitar o escalonamento da crise econômica que pode vir no horizonte. Abaixo, como a coluna avalia cada a resposta de cada chefe de Estado mundial ao coronavírus.
Donald Trump — Estados Unidos
O presidente americano tem sido alvo de críticas por tentar minimizar, desde o início, o impacto do coronavírus e por ter demorado a tomar medidas. Em um primeiro momento, ele se recusou a fazer um teste da doença após ter entrado em contato com a comitiva do presidente Jair Bolsonaro -ao menos três integrantes do grupo que jantou com Donald Trump na Flórida no dia 7 contraíram o vírus.
A comunicação contraditória dentro do governo também tem sido questionada. Na segunda (9), Trump escreveu em uma rede social que 37 mil americanos haviam morrido de gripe comum no ano passado e que, até aquele momento, havia 546 casos confirmados de coronavírus, com 22 mortes. Dois dias depois, o diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, afirmou que a Covid-19 é 10 vezes mais letal que a gripe sazonal, quando questionado por um comitê da Câmara. Na quarta-feira (11), suspendeu todos os voos provenientes da Europa sem comunicar os aliados.
Só na sexta-feira (13), pressionado a dar uma resposta mais incisiva no combate ao vírus, Trump declarou estado de emergência nacional, o que significa a liberação de US$ 50 bilhões em ações contra a doença.
Xi Jinping — China
No início, a China ocultou as informações sobre a epidemia e reprimiu os médicos que tentavam dar o alerta. Embora a China comemore a desaceleração da epidemia no país, Xi Jinping é criticado porque, ao que tudo indica, sabia da doença 13 dias antes de comentar o assunto publicamente. As medidas drásticas de isolamento de 40 milhões de pessoas na província de Hubei, embora radicais para os padrões ocidentais, parecem ter dado resultado. Segundo o chefe da missão internacional da OMS enviada ao país, Bruce Aylward, o trabalho que a China está fazendo para frear o coronavírus superou expectativas e está tendo sucesso.
Outra crítica ao governo fica por conta da morte do médico Li Wenliang, que detectou e tentou denunciar o surto de coronavírus na cidade de Wuhan - que chegou a ser detido no início de Janeiro por espalhar falsos rumores. O caso foi abafado pelas autoridades.
Giuseppe Conte — Itália
O governo italiano só detectou a disseminação do vírus quando as famílias já choravam os mortos. A vigilância sanitária italiana fracassou, e a Itália se tornou o país com maior número de casos fora da China. O primeiro-ministro Giuseppe Conte só ampliou a quarentena do Norte para todo o país na segunda-feira, 9, restringindo a circulação no país e cancelando eventos.
No domingo, o governo propôs a aprovação de medidas que somam 25 bilhões de euros (R$ 135 bilhões) e incluem, segundo a imprensa italiana, o envio de recursos adicionais para o sistema de saúde e uma série de abonos e indenizações.
Andrés Manuel López Obrador — México
O presidente mexicano de esquerda tomou uma atitude semelhante a de Jair Bolsonaro. Como faz todos os finais de semana, Manuel López Obrador, percorreu municípios do interior do país apertando mãos e abraçando cidadãos, que lhes pediam favores e tiraram selfies com o político.
— Há quem diga que, por conta do coronavírus, não devemos nos abraçar. Mas temos de nos abraçar, não há problema — afirmou.
O gesto foi criticado pela imprensa e redes sociais no momento em que o próprio Ministério da Saúde pede que as pessoas não se cumprimentem como beijos e abraços, como forma de prevenir o contágio. O governo decretou no fim de semana a suspensão das aulas nas escolas e apresentou um plano que prevê a paralisação de atividades não essenciais no setor público.
Alberto Fernández — Argentina
Alberto Fernández foi um dos primeiros líderes sul-americanos a anunciar o fechamento das fronteiras do país, no domingo (15). A Argentina foi o primeiro país a registrar uma morte na América Latina. Após reunião de cinco horas com seu gabinete, fez vários anúncios, entre eles a suspensão das aulas até 31 de março. Uma medida questionada foi o fato de manter as partidas de futebol — ainda que com portões fechados — como forma, segundo ele, de entretenimento aos cidadãos, pela televisão.
Moon Jae-in — Coreia do Sul
Em 13 de fevereiro, havia 28 casos de coronavírus na Coreia do Sul. Quatro dias depois, nenhuma infecção foi confirmada. O presidente Moon Jae-in afirmou, então, que a epidemia "desapareceria em breve" e o primeiro ministro garantiu à população que tudo estava bem e era desnecessário utilizar máscaras para sair às ruas. Como veio a acontecer, o vírus se propagou rapidamente e o país se tornou o segundo com maior número de casos na Ásia (atrás da China). Chegou-se a falar em impeachment.
O governo conseguiu virar o jogo. Testou 222 mil pessoas desde o início e fez um trabalho sofisticado de detetives médicos, mapeou focos, usou tecnologia para identificar portadores e colocou 29 mil pessoas em autoisolamento, monitorado à distância. Pegou casos antes que se agravassem, estabeleceu prioridades e teve leitos de hospital para quem precisou.
Pedro Sánchez — Espanha
A Espanha é o segundo país da Europa mais afetado pelo novo coronavírus, superado apenas pela Itália. O governo espanhol decretou quarentena obrigatória em todo o território. No caso de Madri, o apelo a permanecer em casa chegou quando já havia mais de mil contágios. Ele foi criticado por ter dois pesos duas medidas: proibiu atos do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, mas manteve as fronteiras abertas.
Ainda que a maioria apoie as iniciativas do governo espanhol na opinião de muitos especialistas deveriam ter sido realizadas ações mais parecidas às da Coreia. Todos os países europeus não fizeram o suficiente.
Angela Merkel — Alemanha
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, tradicional defensora de fronteiras abertas, tentou resistir, mas foi voto vencido. O país fechou os acessos a nações do Sul desde esta segunda-feira (16). Internamente, ela tem sido criticada pela reação alarmista.
_Até 70% da população da Alemanha deve ser infectada pelo novo coronavírus a longo prazo _ disse na quarta-feira (11).
A declaração de Merkel atraiu reclamações de pares europeus que a acusaram de disseminar pânico. O jornal sensacionalista Bild definiu a situação como "coronacaos" - e afirmou haver uma crise de liderança.
Emmanuel Macron — França
O presidente francês, Emmanuel Macron, tentou, mais uma vez, se mostrar como líder da União Europeia (UE), buscando unificar os discursos de seus colegas contra o coronavírus. Não conseguiu o almejado apoio dos pares — nem da Alemanha, tradicional aliada —, que, aos poucos, foram fechando as fronteiras nacionais. Macron questionou as medidas. Também chamou medidas como a de Trump, com quem tem rixas antigas, de "isolamento nacionalista".
— Este vírus não tem passaporte — disse.
Vetou o funcionamento de bares e restaurantes, mas manteve a temerária decisão de realizar eleições municipais no domingo (15). Nesta segunda-feira (16), apertou as restrições em pronunciamento na TV:
— Estamos em guerra.