Após sucessivas ameaças no plano da retórica, a reação iraniana à morte do general Qassem Soleimani veio na noite desta terça-feira (7) — madrugada de quarta-feira na Ásia — na forma de um ataque convencional, com alvo militar. Não foi um ato terrorista por meio de suas milícias e grupos extremistas nem por um atentado cibernético, como se chegou a imaginar. O Irã reagiu com o uso de suas forças armadas, ou seja, com um ataque de um Estado contra outro.
Isso é importante porque expõe como o governo do Irã encara a morte de seu mais graduado oficial, na sexta-feira (2). Como um ato de guerra, uma hostilidade de um governo contra o outro.
A resposta iraniana se dá por meio de foguetes terra-terra. Foram pelo menos 12 jogados contra, pelo menos, duas unidades militares americanas: al-Asad e Irbil. Foguetes têm menor poder de destruição do que mísseis e são bastante usados pelo grupo extremista Hezbollah, no Líbano, contra Israel.
Ain al-Assad é uma base aérea localizada no oeste do Iraque. É o principal local onde estão aquartelados os militares americanos no país. Há cerca de 5 mil soldados dos EUA em toda a nação — e mais 3 mil estão sendo enviados desde sexta-feira (3). Nem todos ficam na base, localizada a 200 quilômetros da Capital. Muitos soldados e funcionários do governo dos EUA ainda estão na chamada Zona Verde, o complexo que fica em Bagdá, onde está a embaixada atacada recentemente por milícias pró-Irã.
Três curiosidades sobre os primeiros movimentos de reação do Irã: essa base recebeu uma visita do presidente Donald Trump em dezembro de 2018. A segunda: foi exatamente na província de Al-Ambar, onde está a unidade, que o grupo terrorista Estado Islâmico apareceu pela primeira vez no Iraque. É um enclave sunita, facção do islamismo contrária aos xiitas (maioria no Irã). A terceira: o principal negociador iraniano sobre o acordo nuclear Saeed Jalili reagiu ao ataque de forma semelhante a Trump, na sexta-feira: postou no Twitter uma foto da bandeira do Irã.
Agora, a bola está com a Casa Branca. Trump está reunido com seus principais assessores. A resposta — se houver — nos dirá para onde a escalada de tensão entre os dois países pode nos levar. O comitê de crise do governo americano sabia que, ao matar o general Soleiman, estaria abrindo a caixa de pandora do Oriente Médio. Os cálculos, espera-se, foram feitos. As próximas horas serão decisivas para o futuro da região — e do mundo.