O projeto para o Oriente Médio que Donald Trump pretende anunciar nesta-terça (28) às 12h (horário de Washington) já nasce com um vício de origem — atende apenas aos interesses de um lado, o de Israel. Por isso, está fadado ao fracasso.
O presidente americano afirma que o plano israelense-palestino "talvez tenha uma chance". O problema crucial é que qualquer negociação se deu exclusivamente entre os Estados Unidos e o Israel - excluindo os palestinos da mesa de diálogo. Por isso, não se trata de um plano "israelense-palestino". É apenas americano-israelense.
Culpa só de Trump? Não. Nos últimos meses, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, rejeitou vários convites da Casa Branca para falar sobre o projeto. Intransigência? Sim. Mas, até onde se sabe, com certa razão. O esboço do plano que será apresentado nesta terça-feira (28) propõe a anexação por Israel do Vale do Jordão, uma área agrícola e estratégica que representa cerca de 30% da região ocupada da Cisjordânia bem como as colônias israelenses lá criadas. Também inclui o reconhecimento oficial de Jerusalém como capital única e indivisível de Israel. É tudo o que boa parte da comunidade internacional tem rejeitado por décadas porque inviabilizaria a criação de um futuro Estado palestino.
Com pequenas variações, os elementos constitutivos de um Estado são governo, população e território. Os dois primeiros os palestinos possuem. Mas lhes falta continuidade territorial — a área de um futuro país (Cisjordânia e Faixa de Gaza) está fisicamente separado. Além disso, a Cisjordânia está crivada de colônias israelenses, que tornam um hipotético território uma colcha de retalhos que inviabiliza a soberania, outro requisito fundamental de um país. O plano de Trump só aprofunda essas divergências.
Líderes palestinos cortaram qualquer contato formal com o governo americano desde que Trump reconheceu, em dezembro de 2017, Jerusalém como a capital de Israel, enquanto os palestinos desejam fazer da região oriental da Cidade Sagrada ocupada na Guerra dos Seis Dias e anexada a capital do Estado a que aspiram.
Está claro que não haverá conversas com os americanos até que os Estados Unidos reconheçam a "solução de dois Estados" — um Estado palestino ao lado de Israel. Apoiada pela ONU e pela União Europeia, essa proposta é mais próxima que se chegou de uma paz possível no Oriente Médio até hoje. Mas com Trump na Casa Branca e com Benjamin Netanyahu na Knesset, ela nunca esteve tão distante.