Em conversa com a coluna, nesta sexta-feira (3), o embaixador do Brasil em Bagdá, Miguel França de Magalhães, afirmou que mantém um plano de evacuação para a retirada de cidadãos brasileiros do país, caso a situação da segurança piore nas próximas horas no Iraque.
A tensão cresceu no país depois do bombardeio com drones americanos que matou Qassem Soleimani, líder da Guarda Revolucionária do Irã. A seguir, trechos da entrevista.
Como está a situação no país neste momento?
O Iraque vive momentos de tensão, previsível diante dos acontecimentos recentes. A tensão decorre da escalada de eventos: o ataque por milícias iraquianas ligadas ao Irã à base militar em Kirkuk (no Iraque), onde estão aquartelados militares americanos. O bombardeio, pelos EUA, de instalações da milícia iraquiana, a invasão do perímetro da embaixada americana por milicianos iraquianos e, nesta sexta-feira (3), a morte, em Bagdá, por ataque de drones assumido pelos EUA, do general iraniano Qassem Soleimani, e do comandante miliciano iraquiano Abu Mahdi al Muhadis. A sequência de acontecimentos sugere operações violentas nos próximos dias em território iraquiano, cujo governo se vê envolvido na disputa entre Estados Unidos e Irã.
Quantos brasileiros vivem no Iraque? Os EUA pediram que seus cidadãos saiam do país. O senhor pensa em tomar medida semelhante?
A embaixada do Brasil em Bagdá tem o registro de 78 cidadãos brasileiros vivendo no Iraque, quase todos no Curdistão. A embaixada mantém atualizado plano de evacuação, como procedimento regular em todos os postos do Itamaraty. É claro que temos preocupação e cuidado com a segurança dos nossos compatriotas. Os acontecimentos no Iraque estão sendo cuidadosamente analisados e a eventual decisão sobre evacuação, se vier a ser tomada, ocorrerá no momento adequado, se necessário.
Nos últimos anos, o Iraque vinha passando por alguma estabilidade, depois da expulsão do Estado Islâmico. Por que mudou?
Os dois anos desde a reconquista de Mosul, último bastião no Iraque do autodenominado Estado Islâmico, parecem haver mostrado à população que o governo iraquiano não conseguiu traduzir a paz em benefícios concretos tais como fornecimento regular de energia elétrica e água em várias regiões. O desemprego é alto, principalmente entre os jovens e há acusações diversas de corrupção contra integrantes do governo.