Há pouco mais de uma semana, uma estudante gaúcha de 17 anos que ficou retida por 15 dias em um centro de detenção para imigrantes ilegais nos Estados Unidos chegou ao Rio Grande do Sul, encerrando um pesadelo que durou três meses entre o afastamento da família na fronteira com o México e a autorização para o retorno ao Brasil.
A jovem, conforme noticiou a coluna em agosto, foi separada dos parentes quando retornava de carro do México para o Estado americano do Texas, onde passava férias com um tio. Alegando “problemas com o visto”, as autoridades retiveram a garota e a levaram para uma instalação do governo a mais de 2 mil quilômetros dali, em Chicago. Foi libertada, mas precisou aguardar nos EUA autorização para voltar ao Rio Grande do Sul.
Sem entrar no mérito dos motivos que levaram à retenção da estudante gaúcha, o caso ilustra a maior rigidez decretada pelo governo Donald Trump no controle da fortaleza americana. Os Estados Unidos, há décadas, são território preferido de imigrantes, em especial da América Latina. E, cada governo, determina suas políticas de migração e segurança de acordo com seus próprios interesses.
Mas é em momentos em que a vida de cidadãos brasileiros (ou americanos, se a situação fosse do outro lado) estão sob risco que a boa relação entre as chancelarias deve entrar em cena. É quando espera-se que a diplomacia brasileira faça uso do tão propagado alinhamento automático do governo Jair Bolsonaro com a Casa Branca.
Esta semana, o jornal The Washington Post informou que um grupo de mais de 50 brasileiros — incluindo pais e filhos — passou entre 15 e 25 dias em instalações semelhantes a tendas, na fronteira entre EUA e México. O período é superior ao prazo de três dias estipulado pelas autoridades americanas para evitar superlotações nos locais, que recentemente foram criticados pelos próprios americanos pelas más condições.
O governo afirma que os detidos tinham acesso a chuveiros, banheiros, lavanderia e refeições quentes, incluindo “comida para bebês”. Segundo o Post, porém, o processo de deportação demorou mais do que o normal por questões logísticas — as autoridades americanas não informaram quais. De acordo com o U.S. Customs and Border Protection (CBP), órgão de proteção a alfândegas e fronteiras, as famílias dormiam em um grande quarto nas instalações, descritas como “fortes e compactas” com “paredes de borracha pressurizada”.
Por maior conforto que tenham, não é local adequado para crianças, muito menos para bebês.
Na viagem de março a Washington, Bolsonaro anunciou que americanos não necessitam mais de visto para ingressar no Brasil — medida sem reciprocidade, ou seja, os brasileiros continuarão tendo de apresentar o documento ao ingressar nos EUA.
— Alguém tem de estender os braços em primeiro lugar, estender as mãos em primeiro lugar, e fomos nós. Creio que podemos ganhar muito na questão do turismo, se bem que sei que a questão do turismo está muito ligada à questão da segurança — afirmou Bolsonaro à época.
Antes do apoio americano à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de parcerias militares ou ainda de quaisquer acordos comerciais, deseja-se que o namoro atual entre os governos de EUA e Brasil possa valer para facilitar o diálogo em momentos em que os cidadãos de seus países estão fragilizados. No mínimo.