Nesta terça-feira (1º), o governo chinês celebra o 70º aniversário da criação da República Popular, proclamada pelos comunistas em 1949. Para se exibir ao mundo como superpotência global, o regime organizou uma gigantesca parada militar, com mais de 15 mil soldados, 160 aviões e dezenas de mísseis balísticos.
Após o desfile, outra marcha será realizada, com 100 mil pessoas e 70 carros, recordando as conquistas das últimas décadas. Também serão lançadas 70 mil pombas e 70 mil balões. Por vários dias, imagens com a figura do número 70, slogans e textos patrióticos que elogiam o Partido Comunista foram projetados nos arranha-céus de Pequim.
Os números mastodônticos e a pujança da economia chinesa não podem, entretanto, ocultar nesse dia o autoritarismo do regime chinês. O país está entre os 15 piores do mundo em termos de liberdade, segundo a Freedom House. Há milhares de prisioneiros políticos.
Um das vítimas mais famosas da truculência do regime foi libertado recentemente e virou símbolo de um país que esconde sob o tapete do poderio econômico uma ditadura cruel.
Lu Guang, fotógrafo chinês vencedor do World Press Photo, ousou mostrar a China que o PC não queria que viesse a público. Ficou por quase um ano nos porões comunistas. Em meados de setembro, sua mulher, em um tuíte, revelou que ele foi solto e se encontra em segurança.
Com mais de três décadas de profissão, Lu Guang registrou o lado oculto do boom econômico chinês, a contaminação do ambiente, as doenças derivadas do crescimento, a superexploração do trabalho, que atinge inclusive crianças. Ele foi solto, mas há pelo menos outros 46 jornalistas presos na China desde 2018.
Com a chegada de Xi Jinping ao poder, em 2013, houve recrudescimento da censura e da repressão. Nas últimas semanas, a mídia chinesa foi instruída a não divulgar notícias negativas, como acidentes ou desastres naturais, e dar prioridade à "energia positiva", como o Partido Comunista costuma repetir.
Enquanto o regime comunista celebra seu império, Hong Kong passa por sua mais grave crise política desde sua devolução a Pequim em 1997. O movimento pró-democracia prepara novas manifestações que, segundo a polícia do território, podem ser muito perigosas por sua crescente violência. Até agora, o que se tem visto é repressão e ameaças de ocupação com tropas. A China tem em Hong Kong a chance de se redimir em parte e uma oportunidade de enviar ao mundo uma imagem condizente com sua grandeza.