Se, por um lado, o inquérito de impeachment aberto nos Estados Unidos eleva a pressão sobre o presidente Donald Trump, o escândalo pode respingar, em efeito contrário, também sobre a candidatura de Joe Biden, ex-vice de Barack Obama e favorito entre os democratas para concorrer à Casa Branca no ano que vem. Isso porque o caso joga holofotes sobre o filho do ex-senador, Hunter Biden, cujo passado é polêmico em razão de relações empresariais pouco transparentes e uso de drogas.
Mas quem é Hunter Biden, o nome que Trump pronuncia no telefonema ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, pedindo uma investigação?
A parte mais conhecida da vida do filho de Joe Biden é como profissional. Hoje com 49 anos, Hunter entrou para o conselho de administração da Burisma Holdings, a maior empresa privada de gás da Ucrânia, em 2014. Nesse período, seu pai era vice-presidente no segundo mandato de Obama. Biden era o enviado do presidente americano para assuntos de Ucrânia e para tratar sobre a tensa relação com o governo russo, que anexou a Crimeia.
Até aí, ainda que se possa suspeitar de tráfico de influência, não há provas do apoio do pai à participação do filho. As suspeitas são outras, sobre a empresa. A Burisma pertence a Mykola Zlochevsky, empresário, ex-deputado e ex-ministro de Ambiente da Ucrânia, investigado por corrupção. A companhia está registrada no Chipre, um paraíso fiscal no Mediterrâneo.
Zlochevsky, o dono, era investigado pelo procurador-geral Viktor Shokin. A Casa Branca teria pressionado o governo ucraniano a destituí-lo alegando poucos resultados na luta contra a corrupção. Se ele não fosse afastado, os EUA deixariam de liberar US$ 1 bilhão em ajuda prometidos ao governo ucraniano. É aí que as suspeitas recaem de novo sobre Biden, suas idas e vindas à Ucrânia e seu poder como vice em favorecer à empresa onde seu filho trabalhava. Shokin saiu, e o dinheiro foi enviado. Ironicamente, agora, a acusação pelo lado republicano é de que Trump teria bloqueado US$ 400 milhões em apoio à Ucrânia até que as ações de Biden fosse investigadas.
Hunter tem um passado de pouca transparência nas relações empresariais. Enquanto estava no conselho do Programa Mundial de Alimentos dos EUA, ele sugeriu a um magnata chinês a utilização de contatos que ele possuía para identificar oportunidades de investimento. Na mesma noite, recebeu do chinês no quarto do hotel um diamante de 2,8 quilates avaliado em US$ 80 mil como presente. Ele repassou o presente para seus sócios.
Uma face menos conhecida de Hunter é a relação familiar. Esse silêncio foi quebrado em uma entrevista à revista The New Yorker, em julho de 2019, na qual ele admitiu ter consumido álcool e cocaína por décadas, chegando a ser dispensado da marinha americana em razão de um teste positivo para a droga. O vício começou quando ele estava na graduação de história na Georgetown University, em Washington. Hunter tem mestrado pela Yale University.
Na infância, uma tragédia familiar marcou sua vida. Em 1972, quando tinha dois anos, Hunter estava no carro no qual morreram a mãe e sua irmã mais nova em um acidente. Ele e outro irmão, Beau, sobreviveram. O irmão morreu de câncer em 2015. Hunter passou a namorar a cunhada, Hallie, em um relacionamento apoiado pelo pai. Atualmente, ele está casado com a cineasta sul-africana Melissa Cohen.
Em 2017, Kathleen Buhle, a primeira mulher de Hunter e com quem ele tem três filhos, entrou com uma ação na Justiça contra o ex-marido, alegando que ele “criou preocupações financeiras para família ao gastar de maneira extravagante em seus próprios interesses”. A tal maneira extravagante incluiria drogas, álcool e prostitutas. Hunter nega as acusações.