A novela do impeachment de Donald Trump está só começando. Como todo julgamento do tipo, o objetivo da oposição é fazer quem está no poder sangrar politicamente até o final. Mesmo que o fim não seja, necessariamente, a interrupção do mandato. No caso americano, os democratas já se considerarão vitoriosos se Trump chegar à metade de 2020, ano eleitoral, com popularidade tão baixa que terá poucas chances de reeleição.
Esse é o sonho da oposição.
Agora, vamos à realidade. Dificilmente, o presidente americano será apeado do poder.
Trump tem a seu favor a história, uma acusação com até agora pouca materialidade para se tornar uma ameaça, a economia e apoio político no Congresso.
A história: embora processos tenham sido instaurados, jamais um presidente dos EUA foi deposto por impeachment. Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998, foram absolvidos. Richard Nixon, que provavelmente seria condenado, renunciou em 1974.
Pouca materialidade: a transcrição do telefonema entre Trump e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, não parece, ao menos até agora, potente o suficiente como prova de que houve violação da Constituição.
A economia: Trump surfa nos bons números. Os EUA registram taxa de desemprego mais baixa em quase meio século e o país cresce como poucas vezes se viu.
Se tudo isso der errado, Trump ainda tem a seu favor o apoio político. A abertura do processo não significa que a Câmara dos Deputados, a chamada House of Representative, onde os democratas são maioria, vai decidir votar pelo impeachment de Trump. O julgamento é atribuição do Senado. Lá, quem domina é o Partido Republicano, o que reduz drasticamente as chances de ele ser condenado. Dentre os cem senadores, há 53 republicanos, 45 democratas e dois independentes.