Há semanas, a oposição venezuelana vinha prometendo para esta quarta-feira, 1º de maio, uma megamanifestação em Caracas. Nesses mais de três meses de tentativa de Juan Guaidó de levar adiante seu mantra: "fim da usurpação-governo de transição-eleições gerais", houve altos e baixos: a autoproclamação como presidente, em 23 de janeiro, a tentativa frustrada de ingresso de ajuda humanitária, em 23 de fevereiro, a censura escancarada e prisão de jornalistas, os confrontos, as marchas e contramarchas.
Por vezes, parecia que Nicolás Maduro estava por um fio. Em outras, a sensação era de que o movimento havia arrefecido, quase tendo desaparecido.
Guaidó e a oposição dependem das ruas para a chama não se apagar. O protesto desta quarta seria o momento de retomar a pressão. Mas, por algum motivo, o #1Mai virou #30Abr, para ficarmos nas hashtags do movimento nas redes sociais. Guaidó antecipou a “Operação Liberdade” ou porque, finalmente, teria recebido apoio de militares, ou porque descobrira que sua prisão era iminente.
A hipótese da possível detenção foi publicada pela jornalista independente venezuelana Luz Mely Reyes, com boas fontes na oposição. Segundo ela, Guaidó estaria negociando apoio de altos comandantes militares. No entanto, a antecipação, sem que se consolidasse o respaldo da cúpula, teria feito com que os oficiais recuassem.
Se foi um ato desesperado diante do risco de detenção, ok, justifica-se. Mas, se Guaidó arriscou sua vida e de seus apoiadores imaginando que teria apoio massivo do estado-maior, foi um erro.
As imagens de homens da Guarda Nacional com bandanas azuis cobrindo o rosto, desertando para fileiras da oposição, são inéditas na caserna venezuelana. Mas não se derruba um regime como o de Maduro com meia dúzia de militares.
A Venezuela é o império do medo. E a coesão nos quartéis é mantida na base da delação, no pior estilo soviético. Passar para o outro lado significa assinar a sentença de morte. Fiéis da balança do regime, os oficiais do estado-maior – Exército, Marinha, Força Aérea, Guarda Nacional, Comando Estratégico Operacional e o ministro da Defesa – estão com Maduro. Ao menos até agora.
O resultado do 30 de abril: pelo menos 71 feridos e 30 detidos. Maduro tremeu, mas não caiu. A liberdade de Leopoldo López, maior trunfo da oposição, não durou 12 horas. Na tarde de ontem, buscou abrigo na embaixada chilena e, à noite, rumou para a da Espanha, país do qual tem cidadania. Militares dissidentes tentam refúgio no Brasil. E o futuro de Guaidó é incerto – a prisão ou a fuga. É cedo para dizer que a Operação Liberdade foi um tiro que saiu pela culatra. Mas há sinais de que a oposição perdeu não apenas timing quanto fôlego.