Com um olho em Jair Bolsonaro e o outro nas notícias que espocarão em seus smartphones desde o lado de cá do Atlântico. Assim a plateia do Fórum Econômico Mundial vai acompanhar o pronunciamento do presidente brasileiro nesta terça-feira em Davos.
Ao mesmo tempo em que avaliam as promessas de um "novo Brasil", os 3 mil líderes políticos e empresariais reunidos na cidade alpina miram com preocupação a Venezuela, que deve viver dias dramáticos.
Bolsonaro desembarcou em Davos dizendo esperar que o governo da Venezuela de Nicolás Maduro "mude rapidamente". Ele falará no palco mundial um dia antes da mobilização convocada pela oposição em Caracas. Isso se o regime madurista-bolivariano permitir que manifestantes saiam às ruas na quarta-feira.
Rumores tomam conta da capital venezuelana: fala-se que o regime pode decretar estado de exceção, o que daria carta branca aos policiais para caçar quem estiver na rua sem autorização — isso inclui militantes, políticos e, provavelmente, jornalistas que estarão cobrindo os fatos.
Com Bolsonaro ainda em Davos, o governo brasileiro pode reconhecer o deputado opositor Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional (não reconhecida por Maduro), como presidente legítimo da Venezuela caso o Legislativo assim o declare. Enquanto isso, há sinais de fissuras na caserna. Maduro não tem a mesma simpatia e admiração dos militares que seu mentor, o falecido tenente-coronel Hugo Chávez. Não é um deles.
A promessa de Guaidó de anistiar militares que eventualmente se levantem contra o governo deu resultado claro nesta segunda-feira. Ecoou nos quartéis. A ponto de um grupo se amotinar em Cotiza, no norte de Caracas.
Integrantes da Guarda Nacional Bolivariana (GNB), os sargentos roubaram armas de um posto em Petare e sequestraram quatro oficiais. Em seguida, foram para Cotiza, onde gravaram vídeos que circularam nas redes sociais. Nas imagens, diziam não reconhecer Maduro e pediam o apoio da população. Moradores responderam rapidamente: começaram a bater panelas e atearam fogo a lixeiras para bloquear ruas.
O grupo acabou preso. Menos efetiva e mais simbólica, a ação se junta a outras dos últimos meses. Começou com o solitário piloto e ex-policial Óscar Pérez, que em 2017 atacou prédios governamentais usando um helicóptero. Na sequência, armas foram roubadas no forte de Paracamay. Cada pequena insubordinação é sufocada por oficiais de alto escalão.
Maduro está como o jogador naqueles games em que um tresloucado submarinista, dentro de uma cápsula, tenta cobrir cada buraco que surge no casco de vidro. Uma hora, a situação fica incontrolável.