O dramático debate que se estabeleceu na distante Katowice, na Polônia, e que deveria preocupar a todos nós, resume duas visões de mundo: daqueles que confiam na ciência e nas pesquisas que confirmam que o planeta está aquecendo e dos negacionistas, que usam informes de qualidade duvidosa, financiados por grupos obscuros para basear políticas populistas que dão sinal verde para que continuemos poluindo. A COP-24, como é chamada a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre o clima, que este ano ocorre na cidade polonesa a 200 quilômetros de Varsóvia, entrou madrugada adentro e deve continuar neste sábado pela manhã, em busca de ao menos um protocolo de intenções.
Já vi este filme pessoalmente, como repórter, nas conferências de Buenos Aires, Montreal e Bali, na primeira década do século 21, quando documentos vagos eram celebrados como vitórias memoráveis por integrantes de delegações cujas olheiras denunciavam noites insones em busca de consenso. Na realidade, não passavam de textos possíveis, longe do ideal, do necessário e do urgente para estancar o aquecimento global.
Depois que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertou em outubro que o mundo não pode permitir um aumento da temperatura superior a 1,5 ºC, porque isso colocaria em risco o futuro da humanidade, nações como Estados Unidos - que já se retirara do Acordo de Paris —, Arábia Saudita, Rússia e Kuwait se recusaram a apoiar o relatório. A China, um dos maiores poluidores do mundo, ensaiava ocupar o vácuo político deixado pelos americanos, ironicamente, defendendo um passo adiante na luta contra a mudança climática, mas não mostrou a que veio na Polônia. O governo do presidente eleito Jair Bolsonaro ameaça seguir a política negacionista de Donald Trump. A França, palco do histórico do Acordo de Paris — um vento de lucidez no deserto do século 21 —, chegou enfraquecida à Polônia após os protestos dos "coletes amarelos", que mostraram que boa parte da população não está disposta a pagar a conta para que o governo Emmanuel Macron dê o exemplo e cumpra suas próprias metas de redução de emissões de gases.
Mesmo que se chegue a uma declaração final neste sábado em Katowice, somos todos perdedores. Não há clima para se falar em luta pelo meio ambiente em um mundo que caminha para o egoísmo, o retorno à visão unipolar e de recrudescimento das fronteiras nacionais. Ora, o aquecimento global exige desprendimento por parte dos governos e população, o entendimento de que trata-se de um problema transnacional, que exige medidas que superem a visão realista da política e caminhem para o colaboracionismo. Infelizmente, por enquanto, não há espaço para concertação.