Antes tarde do que mais tarde. A comunidade internacional acordou para a crise migratória que transborda das fronteiras venezuelanas. A indicação pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e da Organização Internacional para Migração (OIM) de um representante especial para lidar com o assunto representa, na prática, que o problema da Venezuela chegou, finalmente, a Nova York, mais precisamente ao prédio às margens do East River, onde fica a sede da ONU.
É lá que este assunto deve se tratado. Não para que países latino-americanos, como o Brasil, fujam de suas responsabilidades enquanto Estados signatários da convenção de proteção aos refugiados, mas justamente para garantir que esses governos irão transgredir seus direitos. Em agosto, o Brasil deu exemplo do que não fazer. Na confusão entre moradores e migrantes em Pacaraima, Roraima, cerca de 1,2 mil venezuelanos acabaram cruzando de volta a fronteira e voltando para o país de Nicolás Maduro — inclusive, eventuais refugiados, perseguidos políticos que são protegidos pelo direito internacional, com garantias de que não serão devolvidos.
O cargo de representante especial será ocupado pelo ex-vice-presidente da Guatemala Eduardo Stein Barillas. A indicação atende a um pedido da Colômbia, principal destino dos venezuelanos. Para lá, fugiram 870 mil pessoas desde o início da crise. Para o Equador, foram 454 mil. Outros 400 mil foram para o Peru. Para cá, no Brasil, apesar da xenofobia escondida por trás da gritaria de muitos setores, especialmente em Roraima, só entraram 120 mil migrantes, segundo a ONU.