Logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, a maioria dos americanos que respondeu a uma pesquisa disse que estaria disposto a abrir mão de sua privacidade em troca de maior segurança. E você? Aceitaria que serviços de inteligência monitorassem suas conversas pelo WhatsApp em nome da garantia de que um atentado terrorista seria evitado?
Não é de hoje que autoridades de segurança acusam apps de conversação como WhatsApp e Telegram de proteger terroristas. Algum tempo atrás, a ministra do Interior do Reino Unido, Amber Rudd, disse ser inaceitável que as comunicações entre os suspeitos escapem dos serviços de inteligência.
No ano passado, logo após Khalid Masood atropelar várias pessoas na ponte de Westminster, soube-se que ele havia usado o WhatsApp para se comunicar. No entanto, a o fato de as mensagens serem criptografadas não se chegou a outros nomes suspeitos. Em pelo menos duas ocasiões, decisões de juízes de primeira instância levaram ao bloqueio do app em todo o Brasil. As medidas atendiam a pedidos da Polícia Federal em investigações criminais e, em algumas horas, foram revertidas.
A pressão das autoridades para invadir o obscuro mundo dos apps de conversação — como se sabe também os principais meios de propagação de notícias falsas — já tem dado resultado na Rússia. Na terça-feira, o Telegram mudou sua política de privacidade e poderá entregar dados de seus usuários à Justiça, caso algum tribunal aponte que um suspeito de terrorismo o utiliza. A decisão se insere no contexto da batalha que a empresa trava com o governo.
Em abril, a Justiça do país determinou o bloqueio do aplicativo. A empresa vinha se negando sistematicamente a entregar dados de usuários a pedido do FSB, o serviço secreto russo, que apontava a criptografia do Telegram como um entrave ao monitoramento de terroristas operando no país, especialmente na região do Cáucaso.
Um exemplo foi a coordenação do ataque ao metrô de São Petersburgo, no ano passado, feita a partir do app.
A agência reguladora de telecomunicações russa, a Roskomnadzor, requisitou e conseguiu na Justiça o bloqueio. Na prática, não funciona muito bem, pois o órgão precisa localizar o IP (endereço na internet) de cada usuário e identificar o provedor por onde o serviço do Telegram está sendo ofertado. Mas o app pode migrar sua oferta para outros provedores, em diversos países.
O Telegram também é o app de conversação preferido do grupo extremista Estado Islâmico, principalmente porque as mensagens podem ser destruídas após o envio, conforme mostrou, em 2015, o Centro de Combate ao Terrorismo de West Point. À época, os pesquisadores tiveram acesso a um manual de cibersegurança apresentado a potenciais terroristas. Estava claro que o intuito era empregar serviços que usem criptografia ou passem por sistemas que impedem rastreamento, como a Deep Web. Além do Telegram, o documento recomenda o uso do Cryptocat e do Wickr.