Três experientes jornalistas russos foram mortos na República Centro-Africana enquanto investigavam a presença da empresa privada militar Wagner no país. O repórter freelancer Orkhan Dzhemal, o diretor de documentários Aleksandr Rastorguyev e o cinegrafista Kirill Radchenko foram assassinados em 30 de julho a cerca de 30 quilômetros da cidade de Sibut. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) exigiu que os governos da República Centro-Africana e da Rússia e a Organização das Nações Unidas (ONU), presente com tropas de paz (Minusca) no terreno, investiguem as mortes.
— Os responsáveis pelo assassinato de Orkhan Dzhemal, Aleksandr Rastorguyev e Kirill Radchenko devem ser levados à Justiça — disse Angela Quintal, coordenadora do programa para África do CPJ, em Harare, no Zimbábue.
Eles trabalhavam para o Investigation Management Centre (TsUR), com sede em Moscou e financiado pelo empresário russo Mikhail Khodorkovsky, que vive no exílio. Ao CPJ, o editor-chefe da TsUR, Andrey Konyakhin, disse que os jornalistas deixaram Moscou em 27 de julho e que a última comunicação com eles foi na noite de 29 de julho. O carro dos repórteres foi localizado com várias perfurações de tiros.
A Rússia tem vendido armas para a República Centro-Africana graças a uma autorização de exceção concedida pela ONU.
Os jornalistas investigavam a atuação da empresa Wagner, um grupo poderoso que representa interesses do Kremlin em nações como a República Centro-Africana e a Síria. Também está envolvida nos combates do leste da Ucrânia, junto aos separatistas pró-russos. Na Síria, atuam lado a lado com o exército russo, que apoia o governo de Bashar al-Assad. A organização foi fundada por Dmitri Utkin, ex-oficial do GRU, serviço de inteligência militar russo, e seria financiada por Evgueni Prigojin, empresário ligado ao presidente russo, Vladimir Putin. Prigojin é suspeito de ser um dos articuladores das fábricas de fake news espalhadas na internet e que teriam contribuído para a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse à emissora de televisão estatal Rossiya 24 que os diplomatas da embaixada identificaram os corpos e estavam trabalhando com as autoridades locais para investigar o assassinato. Ela acrescentou que a equipe entrou no país como turista, e a embaixada não estava ciente de sua presença no território.
A República Centro-Africana é um dos países mais violentos do continente. O Brasil chegou a estudar o envio de tropas como parte da força de paz da ONU, mas, em abril, o governo Michel Temer descartou a ideia, alegando restrições orçamentárias.