A caixa-preta dos governos Néstor e Cristina Kirchner começa a ser aberta. Meses de investigações levaram nesta quarta-feira (1) à prisão de 12 ex-altos assessores do casal K no escândalo que nossos vizinhos estão chamando de “Lava-Jato argentina”.
O mecanismo guarda, de fato, semelhanças com o esquema brasileiro: por pelo menos 10 anos, empreiteiros e outros empresários tinham relações espúrias com a Casa Rosada. O caso, denunciado como Los Cuadernos de las Coimas (Os Cadernos das Propinas), leva este nome porque, diferentemente da Lava-Jato, que teve origem em operação que começou em um estabelecimento de lavagem de carros, na Argentina a roubalheira ficou registrada em pequenas oito cadernetas.
Tudo começou em janeiro, quando o repórter Diego Cabot, do jornal La Nación, recebeu uma caixa com os cadernos, que pertenciam ao motorista de Roberto Baratta, número 2 do ex-ministro do Planejamento Julio De Vido.
O homem, Oscar Centeno, se encarregou de anotar no papel tudo o que acontecia em seus trajetos: dias, horários, nomes e endereços por onde dirigiu seu Toyota Corolla. Mais de US$ 50 milhões passaram pelas poltronas e porta-malas dos veículo.
A investigação jornalística descobriu uma azeitada máquina de corrupção: a cada semana, Baratta ia à Quinta de Olivos, residência presidencial, para receber instruções. Em outras palavras, os nomes de quem deveria procurar para receber o dinheiro. Em seguida, ele percorria escritórios e residências de homens ligados às empresas para as quais o Ministério do Planejamento havia autorizado obras públicas. Tudo já estava acertados com De Vido ou com o próprio Néstor.
O esquema contava com seis personagens-chave, além de De Vido e do próprio Baratta. Para nós, brasileiros, os nomes são pouco conhecidos. Mas posso lhes garantir que é a alta cúpula do governo Néstor, morto em 2010, alguns com serviços prestados também à presidência de sua mulher, Cristina, que também foi chamada a depôr.
No mundo onde os crimes são cada vez mais virtuais e com teias difíceis de se serem seguidas, chama a atenção que os cadernos sejam a principal prova da roubalheira. Como as mais premiadas reportagens investigativas, aquelas que mudaram os rumos da história, como Pentagon Papers e Panama Papers, Os Cadernos das Propinas, do La Nación, bem que podia se chamar Os Papeis dos Kirchner.