Suposto ataque com drones, um novo vizinho colombiano para azucrinar e, agora, o fechamento das fronteiras. Desde sábado e até amanhã, intervalo de 72 horas, a crise venezuelana tem sido afetada por episódios que a posiciona de volta ao centro das preocupações latino-americanas.
A se confirmar o uso de veículos aéreos não tripulados (Vant), como os drones são chamados na linguagem técnica, contra o presidente Nicolás Maduro, seria a primeira tentativa de atentado da história com esses aparelhos. Até agora, porém, o governo não mostrou evidências do suposto ataque. O modelo citado é o DJI M-600, com capacidade para grandes cargas e vendido na internet a partir de US$ 4,9 mil. Em nota, a fabricante afirmou que condena o uso de seus produtos "para cometer danos a qualquer pessoa" e disse que está pronta a ajudar na investigação.
A questão dos drones, entretanto, é apenas um aspecto curioso de um drama que ganha proporções maiores no continente.
Não é a primeira vez que o regime madurista é alvo de atos de violência: no ano passado, um policial desertor jogou de helicóptero granadas contra prédios públicos e, pouco depois, um quartel foi atacado. Em todos os atos, há ex-militares ou ex-policiais envolvidos. Ou seja, a base militar do regime, mantida tão unida sob Hugo Chávez, apresenta fissuras sob Maduro.
O governo apontou o dedo para o presidente colombiano Juan Manuel Santos, que hoje passa o poder ao sucessor, Iván Duque, posicionado a sua direita no espectro político. Isso significa que a pressão sobre o venezuelano deve aumentar. Os dois países têm litígios de fronteira, normalmente usados como desculpa para farpas ideológicas.
O chanceler brasileiro Aloysio Nunes está em Bogotá para a posse do Duque, mas até a noite de ontem não havia se manifestado sobre o suposto ataque a Maduro — a tentativa de assassinato de um presidente exige condenação, mesmo que não se concorde com seus métodos. O silêncio do governo Michel Temer é sintomático.
Em meio a tudo isso está o anúncio do fechamento da fronteira brasileira à entrada dos venezuelanos por decisão do juiz Helder Girão Barreto, da 1ª Vara da Federal de Roraima. É certo que o governo do Estado, um dos mais pobres do país, sua capital, Boa Vista, e os outros nove municípios onde há estrangeiros nas ruas não podem lidar, sozinhos, com o volume de ingressantes. Refúgio e migração são assuntos federais. E Brasília tem feito muito pouco para acelerar a interiorização de quem chega.
Uma medida provisória foi assinada por Temer no início do ano para assistências de emergência, como proteção social, saúde, educação, alimentação e segurança pública, com quase dois anos de atraso. Signatário de acordos internacionais, o Brasil tem lidado de forma negligente com a crise migratória em seu quintal. Agora, com a decisão da Justiça, dá exemplo de como rasgar o direito internacional humanitário.