Donald Trump desembarcou em Bruxelas como aquele o síndico que, na reunião de condomínio, pressiona os vizinhos a colocarem a mão no bolso e elevarem despesas com o bolo total. Grosso modo, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é como um grande edifício de 29 apartamentos onde cada um se preocupa com segurança, mas está pouco disposto a gastar.
A cobrança do síndico Trump não é nova. Há tempos, ele quer que os governos aumentem seus gastos com defesa – pediu 4% do Produto Interno Bruto (PIB) de cada nação. De forma geral, não são cumpridos nem os 2% recomendados pela própria cartilha da Otan.
Como principais financiadores da aliança militar, os Estados Unidos gastaram mais de 3,5% do seu PIB em defesa em 2017 – e muito mais nos anos anteriores. Apenas três outros países membros – Reino Unido, Grécia e Estônia – ultrapassaram o limiar de 2% no ano passado.
Onde estão França e Alemanha, que almejam posto de líderes da União Europeia? A primeira reduziu o percentual de 1,96% para 1,79%; a segunda, baixou para 1,24%.
Em 2014, os aliados concordaram em tentar atingir a meta de 2% até 2024, prazo muito longo para Trump. O americano aponta o dedo para a Alemanha, nação rica da UE, que deveria elevar os gastos.
As contribuições diretas dos EUA ao orçamento da Otan representam 22% do total. Sem dúvida, Trump está barganhando, como bom negociador que é. Mas os europeus deveriam agradecer a pressão. Organismos internacionais não podem depender do aporte financeiro de uma única nação.
O mesmo ocorre com a Organização das Nações Unidas (ONU), que têm nos EUA seus principais fiadores. Estados europeus reivindicam o multilateralismo – Berlim inclusive pleiteando a reforma dos sistema ONU erguido das cinzas do II grande conflito mundial e que não representa hoje a estrutura de poder pós-Guerra Fria —, mas, se quiserem uma balança mais equilibrada, é bom começarem a abrir as carteiras.