A saída de Raúl Castro do poder é mais simbólica do que prática. Ele deixa a presidência (Conselho de Estado), mas segue no comando das forças armadas de Cuba e na chefia do Partido Comunista, que, de fato, define os rumos da política na ilha. Os 605 membros da Assembleia Nacional, reunidos esta quarta-feira em Havana, escolherão o futuro governante, a ser anunciado na quinta. Provavelmente, será Miguel Díaz-Canel, atual vice, desde já visto internacionalmente como títere do chefe.
Além de não ter o sobrenome Castro, Diaz-Canel não dispõe na pele as marcas da geração que desceu a Sierra Maestra para fazer a Revolução. Quando nasceu, Fidel estava no poder havia um ano. É formado em engenharia eletrônica e entrou para as forças armadas, mas foi na política estudantil que se destacou. Da União dos Jovens Comunistas galgou cargos na burocracia do partido e chegou à Ministro da Educação.
É discreto, qualidade elogiada pelo chefe. Nisso, aliás, se compara a Raúl, que nunca parece ter desejado assumir o protagonismo de Fidel e foi forçado a assumiu o poder em 2006 quando o irmão adoeceu.
No poder, não chegou a desfazer as "conquistas" da Revolução, mas implementou reformas que, para os padrões cubanos, podem ser consideradas revolucionárias, como a permissão de trabalho autônomo para 150 atividades e redução do tamanho do Estado. Em 2013, escreveu seu nome na história ao assinar a aproximação com os EUA, acordo que Donald Trump rasgou.
A relação com os EUA é fundamental para o futuro de Cuba, ainda que a ilha tenha sobrevivido por 60 anos sem depender dos vizinhos que estão a pouco mais de cem quilômetros ao Norte. Se a Rússia já não ocupa o espaço de padrinho dos anos da Guerra Fria, a China tem muito a dispor. A questão é o caminho que o Partido Comunista cubano irá seguir: até aqui, mostrou que não irá se entregar ao capitalismo, como a antiga pátria mãe, tampouco é favorável ao suposto "comunismo de mercado" chinês.
O embargo econômico americano continua. Raúl sai sem sair. Cuba muda sem mudar. Mas ainda que seja apenas um processo simbólico, um Castro deixar a presidência, ao menos no papel, é histórico. Afinal, há 59 anos, Cuba vive também de símbolos.