A anunciada reentrada descontrolada da estação Tiangong 1 na Terra, que ocorreu na noite deste domingo (1º), representa um revés nas aventuras espaciais chinesas, após dois anos em que o país lançou-se com voracidade na geopolítica e economia planetária. No campo interno, a era Xi Jinping fez reformas internas sem precedentes: abriu-se para investidores estrangeiros, combateu a corrupção, reduziu poluição e melhorou educação. Mas é no campo externo que a China assumiu papel central no mundo, no vácuo deixado pelos americanos na Ásia e utilizando-se da diplomacia do dinheiro no lugar do canhão de Vladimir Putin.
Nos últimos anos, o governo chinês criou uma rede de influência global que se capilariza em organizações como as Nações Unidas, o Banco Mundial e a Interpol (polícia internacional). Sem falar das empresas chinesas espalhadas por todos os quadrantes, muito mais eficientes do que qualquer diplomacia. A consagração do "Chinese way of politic" foi o Congresso do Partido Comunista _ o maior do mundo _, em setembro, que elevou o presidente Xi ao estrelato de dirigente mais poderoso da China, no mesmo nível de Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping.
Por tudo isso, a queda de seu Palácio Celestial (em mandarim Tiangong) é um golpe no moral chinês. Não a toa a agência espacial chinesa, por meses, escondeu que o artefato de 8,5 toneladas não respondia mais aos comandos. Despencaria na Terra de forma descontrolada.
A China começou tarde no ramo da exploração espacial. Só em 2001, o país lançou espaçonaves com animais a bordo. Mesmo assim, dois anos depois, já colocava em órbita seu primeiro astronauta. Uma das diferenças clássicas em relação ao Ocidente _ e que costumeiramente preocupa Estados Unidos e Europa _ é que o programa espacial chinês é conduzido totalmente por militares, o que ilustra a forte conexão entre segurança nacional e progresso tecnológico. Por mais que pesquisas especiais tenham relações intrínsecas com setores militares, a Nasa, por exemplo, é uma agência civil.
Ao não conseguir controlar sua estação, a China comprova que desconhecer completamente todos os passos do caminho das estrelas, ainda que nos últimos 15 anos, seus pesquisadores, turbinados por um orçamento de US$ 3 bilhões da agência espacial, tenham dados saltos impressionantes. O programa espacial chinês é cópia de tecnologias estrangeiras e primeiro fruto de sua estratégia de enviar seus melhores cérebros para estudar no exterior. O projeto de desenvolvimento de foguetes de lançamento, por exemplo, foi levado adiante por um cientista que havia anteriormente trabalhado em Pasadena, Califórnia.
O revés chinês não é desconsiderável. Desde o anúncio de que a estação pode despencar sobre a Terra, a rota do palácio transformado em lixo espacial passou a ser monitorada por outros agências, como a Nasa americana e a Agência Espacial Europeia. E o governo comunista _ como de hábito _ tem sido pouco transparente com informações sobre a Tiangong. Pouco confiável para um país decidido a enviar um homem à Lua entre 2025 e 2030.