Quando as primeiras notícias sobre o desaparecimento do submarino argentino ARA San Juan começaram a ganhar manchetes mundo afora, o segundo-tenente do Exército Nestor Magalhães disse a esta coluna:
— Infelizmente, estou esperando o pior.
O militar da reserva baseava sua expectativa sombria, que se confirmaria nos dias seguintes com a declaração oficial de que os marinheiros a bordo estavam mortos, na experiência de quem mergulhou nos destroços de dezenas de submarinos destruídos em guerras. Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, mergulhador com quatro especializações, Nestor está contando um pouco de suas aventuras submarinas no livro De Guadalcanal a Creta - Mergulhando na História (Evangraf).
São 327 páginas, mais de 500 fotos em que ele mistura vibrantes relatos de viagens a locais como Guadalcanal, ilha onde a maré da Guerra no Pacífico começou a virar definitivamente contra o Japão, com história de grandes batalhas do século 20: Malta, Palau, minúsculo, mas importante base japonesa logística-operacional, atacada pela marinha americana em 1944, e Oscarsborg, na Noruega. Na Normandia, ele localizou um velho tanque Sherman DD afundado no dia do desembarque Aliado, não pelo fogo alemão, mas pelas ondas do Canal da Mancha.
O lançamento será nesta terça-feira, às 20h, na escola Planeta Mergulho (Rua Barão do Amazonas, 226, Porto Alegre). Preço: R$ 60 (no lançamento, o exemplar terá desconto de R$ 10).
Leia abaixo, um resumo do livro nas palavras do próprio autor:
Guadalcanal, ilha da morte. Lugar onde a maré da Guerra no Pacífico começou a virar definitivamente contra o Japão. Palco de feroz batalha pela posse de um aeródromo miserável, cercado por selva tropical infestada de malária. Pois eu estive lá, mergulhando e explorando navios e aviões mortos no leito marinho da Baía do Fundo de Ferro, visitando o campo de batalha, museus militares e memoriais.
É com esta história, real e emocionante, que inicio este livro. Mas teve mais. Pouco tempo depois ganhei a feliz oportunidade de estar a bordo do Tapajó, submarino da Marinha do Brasil e participar de um exercício de navegação e mergulho no Atlântico. Fui batizado por Netuno como Dourado e vivenciei as entranhas daquela máquina complexa, dominada por uma tripulação hábil e dedicada, em um ambiente informal, mas pleno de camaradagem e eficiência; qualidades típicas de um caçador das profundezas.
No ano seguinte fui a Malta. Seria verdade que durante a Segunda Guerra Mundial, quem possuísse aquela ilha amarelada e rochosa, teria nas mãos o domínio do Mediterrâneo Central? Malta pertinaz, foi duramente bombardeada e estava repleta de histórias. Mergulhei nos seus naufrágios, conheci fortalezas, museus e memoriais, trazendo tudo isto para as páginas deste livro. Pousei então em Palau, minúsculo pontinho no mapa da imensidão do Pacífico. Importante base japonesa logística-operacional, atacada tenazmente pela Marinha Americana em 1944. Bombas, minas e torpedos enviaram muitas embarcações para o fundo da laguna e eu tive a possibilidade de esmiuçar as principais.
Depois teve um intervalo de superfície ao desembarcar em Peleliu, ilha invadida por fuzileiros e soldados americanos que tiveram que enfrentar uma selvagem resistência dos japoneses. Visitei cavernas, tanques, canhões, bunkers e aviões apodrecendo na selva inóspita e úmida.
Cansado, caro leitor? Pois eu não.
Fui conhecer o encouraçado USS Texas, poderoso navio de duas Guerras Mundiais, remanescente de uma época romântica onde a espessa blindagem e obuses de grosso calibre, determinavam a vontade política de uma nação. Naquele mesmo ano retornei aos Estados Unidos e conheci na pequena cidade de Fredericksburg, terra natal do almirante Nimitz, o primoroso Museu Nacional da Guerra no Pacífico com seu valioso acervo e esmerada expografia. Em seguida, foi uma visita à Fortaleza de Oscarsborg, na Noruega e sentir de muito perto o clima da Batalha do Estreito de Drobak e o afundamento do cruzador pesado Blücher. Os canhões e os tubos lança-torpedos que afundaram o navio alemão estavam por lá. Ainda em Oslo, tive o ensejo de ver uma embarcação viking com quase 1.200 anos e o navio polar Fram utilizado por Nansen e Amundsen. E lá, bem perto, em Estocolmo, fui conferir o Vasa, galeão que ficou submerso 333 anos no Báltico e que agora é monumento nacional.
Satisfeito, prezado leitor? Eu ainda não!
Já era hora de voltar para a água. Foi assim que aterrissei em Rabaul, também antiga e poderosa base japonesa, com seu excelente porto natural e seus vulcões. Lá foram mergulhos emocionantes em caças Zero, em um biplano Pete e diversos navios afundados na Baía de Simpson. Depois foi Bougainville onde participei de extenuante marcha na selva até o ponto em que caiu o bombardeiro Betty que transportava o almirante Yamamoto, abatido por caças americanos durante a execução da Operação Vingança. Impressionante. Todavia tudo isto ainda era muito pouco. Assim, fui a Croácia e mergulhei no naufrágio de um Junkers 87 Stuka que se encontrava muito bem preservado. No mês seguinte estive na Normandia, França, e identifiquei o naufrágio de um velho tanque Sherman DD afundado no dia do Desembarque Aliado, não pelo fogo alemão, mas pelas ondas do Mancha.
Depois foi Creta, onde pude também mergulhar e explorar um Messerschmitt 109 emborcado no fundo do Mediterrâneo e ainda, conhecer o campo de batalha de Maleme onde pousaram em 1941 os Fallschirmjäeger, também o Cemitério e o Memorial Alemão, bem como o Museu de Guerra de Askifou. Tudo isto é verdadeiro, vibrante e está agora diante dos seus olhos, caro leitor. Tenha um excelente proveito.