A saída de Raúl Castro da presidência em Cuba, substituído por Miguel Díaz-Canel, na quinta-feira, iniciou um processo que, mês a mês, redesenhará, em parte, a cara dos governos na América Latina. Nem todos tão novos assim.
A característica da região em abraçar personalismos trará de volta nomes conhecidos da política, como no México, com Manuel Lopez Obrador, que vai para sua terceira eleição.
Em outros países, crises graves, como na Venezuela, dificultam até caracterizar o processo como "eleição", dada a deterioração das instituições no país de Nicolás Maduro.
O Paraguai deve confirmar, neste domingo, a tendência de governos liberais no subcontinente. Depois, será a vez de disputas eleitorais em Colômbia, Venezuela, México e Brasil.
A seguir, uma análise do cenário em cada nação.
CUBA
Na quinta-feira, a Assembleia Nacional escolheu Miguel Díaz-Canel como presidente do Conselho de Estado de Cuba, cargo de chefe de Estado e de governo, para um mandato de cinco anos. Engenheiro, ex-ministro da Educação, é considerado sombra do chefe, Raúl Castro, de quem foi vice-presidente. Raúl deixa a presidência, mas não o poder _ segue no comando do Partido Comunista e das forças armadas, que é quem de fato manda no país. O fato simbólico é que, pela primeira vez desde a revolução de 1959, um Castro não estará na presidência.
PARAGUAI
O país realiza eleições neste domingo reeditando uma história conhecida — a manutenção do Partido Colorado no poder. O conservador Mario Abdo Benítez deve vencer com larga vantagem. Desde 1947, uma única vez a legenda não esteve na presidência — foi entre 2008 e 2012, com o ex-bispo Fernando Lugo. Benítez surfa na boa onda de econômica do país durante o mandato do atual presidente, Horacio Cartes. O país tem crescido 4% ao ano nos últimos 10 anos. O segundo colocado é Efraín Alegre, candidato de uma coalizão de oposição formada pelo Partido Liberal Radical Autêntico, de centro, e a Frente Guasú, de esquerda.
COLÔMBIA
Em 27 de maio, é a disputa mais eletrizante entre todas. Até pouco tempo atrás, havia uma grande fragmentação política na Colômbia, com pelo menos três candidatos empatados, com cerca de 20% das intenções e voto. Hoje, o senador Iván Duque, afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe (de direita), disparou, deixando para trás Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá e ex-guerrilheiro do M-19 (de esquerda). A eleição põe em lados opostos favoráveis e contrários ao ainda incipiente acordo de paz com as Farc, que colocou fim a 40 anos de guerra civil no país. Duque é contra o acordo. Petro é a favor. Os dois devem ir para o segundo turno.
VENEZUELA
Se a eleição na Colômbia chama atenção pela polarização, na Venezuela, o que preocupa é o risco de violência e o endurecimento do regime. Em 20 de maio, a eleição não deve contar com a principal coalizão de oposição, mesa da Unidade Democrática, que irá boicotar o pleito por considerá-lo fraudulento. O presidente Nicolás Maduro tenta dar um verniz democrático à disputa, assinou um pacto com partidos de oposição que decidiram acompanhar Henri Falcón: Avanço Progressista, COPEI e MAS, dois dos quais não pertencem à MUD. Com órgão eleitoral, Judiciário e parlamento na mão de Maduro dificilmente ele perderá. Os principais candidatos da oposição estarão ausentes desse embate eleitoral. Uns, como Leopoldo López, não podem ser candidatos à Presidência porque estão presos. Outros, como Henrique Capriles, foram inabilitados pela Justiça em processos controvertidos nos quais os promotores não apresentaram provas concretas.
MÉXICO
Em 1º de julho o México realiza uma das eleições decisivas para o futuro político do continente dado o tamanho do país e suas relações tensas com os EUA. Também pode significar uma guinada à esquerda no país, a exemplo do Equador, que no início do ano que elegeu Lenín Moreno — e uma exceção em um continente que abraçou a centro-direita com o impeachment de Dilma Rousseff no Brasil e novos presidentes de Argentina, Peru e Chile. O líder em todas as pesquisas é Andrés Manuel López Obrador, do Movimento de Regeneração Nacional (Morena), que tenta pela terceira vez chegar à presidência. O candidato beneficia-se do discurso contra a corrupção que varre o país, posição antiamericana (em tempos de Trump e de um novo muro na fronteira) pela guerra desatada entre seus dois rivais: Ricardo Anaya, candidato do Pelo México à Frente, uma coalizão heterodoxa entre o direitista Partido de Ação Nacional (PAN) e o Partido da Revolução Democrática (PRD, de centro-esquerda), e José Antonio Meade, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o país durante décadas, incluindo os últimos seis anos.
BRASIL
O país vai ao primeiro turno, em 7 de outubro. O número de pré-candidatos aumenta — já são pelo menos 20 nomes. O PT tem afirmado que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disputará a eleição —estando ou não preso. O cenário está, até o momento, tão aberto que dificulta até prever quem de fato estará no painel da urna eletrônica. Nos últimos dias, a filiação do ministro aposentado do Supremo Joaquim Barbosa e os bons resultados em pesquisa do Datafolha animou o PSB.