Mario Abdo Benítez, um candidato conservador do partido Colorado, e Efraín Alegre, um liberal apoiado por uma coalizão de centro esquerda, encerraram nesta quinta-feira (19) suas campanhas para as eleições presidenciais no Paraguai em um clima de pouca mobilização e falta de entusiasmo.
Abdo Benítez, de 46 anos, é o favorito nas pesquisas com até 20 pontos de vantagem sobre Alegre. Mas seu partido, que domina a cena política paraguaia há mais de 70 anos, enfrenta uma forte divisão interna.
"Marito", como é conhecido popularmente, propõe manter a política econômica do presidente em fim de mandato Horacio Cartes, baseada nas exportações agrícolas, que permitiu ao Paraguai crescer ao ritmo de 4% ao ano há mais de uma década.
Também pretende realizar uma reforma do Poder Judiciário, que considera corrupto.
Alegre, advogado de 55 anos, tenta pela segunda vez chegar à Presidência. Nas eleições passadas, em 2013, nas quais só teve o apoio do seu partido Liberal, perdeu para o atual presidente.
Mas desta vez, conseguiu reeditar a coalizão com a Frente Guasú (Frente Amplo) e outros grupos de esquerda que em 2008 haviam dado a vitória ao ex-bispo e ex-presidente Fernando Lugo, único governante não colorado desde 1947, mas que não pôde concluir seu mandato pois foi destituído em um julgamento político.
No entanto, segundo analistas Alegre não tem nem o carisma, nem puxa votos como Lugo.
"Alegre pertence a um braço poderoso do partido Liberal, mas não é um líder indiscutível", comentou à AFP Magdalena López, coordenadora do Grupo de Estudos Sociais sobre o Paraguai e a Universidade de Buenos Aires.
"Os liberais fizeram parte do movimento que destituiu Lugo da Presidência, mas se vê que nesta ocasião, concluíram que se não se aliarem, não chegarão nem de perto de Abdo Benítez", acrescentou.
- "Presidente dos Trabalhadores -
Em seu comício de encerramento da campanha, Alegre prometeu ser "o presidente dos trabalhadores, da classe média e do agricultor".
"Não vou ser o presidente dos ricos. Eles não precisam de presidente".
Para Fabiola Franco, mãe solteira que compareceu ao ato de campanha de Abdo Benítez nos arredores de Assunção, a divergência está clara.
"Eu acho que se deve votar em Marito porque as mulheres devem apostar no capitalismo, não no socialismo", disse à AFP.
As eleições às quais estão inscritos 4,2 milhões de cidadãos, serão supervisionadas por missões de observação da União Europeia e da Organização de Estados Americanos.
Além do presidente, os paraguaios vão eleger um novo Congresso e governadores.
- Tensão entre colorados -
"Vamos advertir bem, cuidado que ninguém é herói lutando contra sua própria bandeira e imploro que não se escute que correligionários trabalharam para outro partido porque tudo se sabe e isto seria como um filho que trai o pai", disse Cartes em um ato na noite de quarta-feira.
A Aliança Ganar, de Alegre e Lugo, rejeita a candidatura de Cartes ao Senado e pretende boicotá-lo caso seja eleito.
Sua tentativa de aprovar uma emenda constitucional para permitir a reeleição presidencial foi rejeitada há um ano pelo próprio Abdo Benítez e desatou distúrbios que deixaram um morto e o incêndio parcial do edifício do Congresso.
No Paraguai, os ex-presidentes são senadores vitalícios, com voz, mas sem voto. Mas Cartes e o também ex-presidente Nicanor Duarte conseguiram uma sentença favorável da Suprema Corte para ser candidatos ao Senado ativamente.
- Resquícios da ditadura -
"Marito" é filho de Mario Abdo, que foi secretário particular de Alfredo Stroessner. Mas a proximidade de sua família com a ditadura (1954-89) não foi tema de campanha.
"Os que têm menos de 40 anos já não se lembram desta ditadura. Mas isto não está em discussão nesta campanha", explicou o analista político Francisco Capli à AFP.
E "Marito" se esforça por passar uma imagem de líder arejado e dinâmico.
"Fico orgulhoso de que vítimas que sofreram maus-tratos e torturas nessa época (a ditadura de Stroessner) hoje trabalhem comigo. Esta é outra era. Se tivesse tido rejeição não estariam comigo", comentou recentemente em declarações à AFP.
* AFP