O Eurasia Group, um dos principais think tanks de análise de riscos, divulgou nesta terça-feira seu relatório anual dos maiores "perigos" para o planeta no ano que está começando. O Brasil é citado muito rapidamente no contexto de uma possível guerra fria tecnológica entre grandes nações e sobre o risco de erosão das instituições.
A consultoria prevê um mundo que caminha para "depressão geopolítica" e o desmantelamento da ordem global _ ou seja, um cenário de crise grave, com déficit de legitimidade das democracias liberais não visto desde a II Guerra Mundial. Veja um resumo dos 10 maiores riscos mundiais, segundo o Eurasia Group:
1) China
O risco China diz respeito ao uso, pelo governo, de empresas de tecnologia para promover interesses de Estado. A consultoria entende que o país redefiniu o seu papel nas relações internacionais, estabelecendo nova estratégia de investimento e comércio global mais ousada. O conflito entre EUA e China no comércio deve se aprofundar em 2018.
2) Acidentes
Os consultores da Eurasia Group usam o termo "acidente" para se referir ao risco de conflitos internacionais. Eles entendem que em muitos pontos do planeta um "erro de cálculo" (daí o uso da palavra acidente) pode provocar grandes conflitos. Uma guerra cibernética, a crise entre as Coreias, o conflito na Síria, a tensão entre Rússia e EUA e dispersão de terroristas do Estado Islâmico da Síria e do Iraque são os hot points do planeta.
3) Guerra fria tecnológica
Neste capítulo, a consultoria cita uma competição brutal entre EUA e China para dominar novas tecnologias da informação. Os dois gigantes disputariam mercados como o Brasil, Índia, África e Europa.
4) México
O país que realiza eleições este ano ganhou um tópico especial não apenas por conta do pleito mas porque renegociará o Nafta. Incertezas sobre o futuro prejudicariam muito a economia mexicana em razão da dependência do país no comércio com os EUA.
5) EUA e Irã
Foi coincidência o período de divulgação do relatório — justamente quando o Irã enfrenta sua maior crise desde 2009, com protestos que já deixaram mais de 20 mortos. No texto, o Eurasia Group afirma que o acordo nuclear — jogado no lixo, se depender de Donald Trump — irá sobreviver a 2018. Para os consultores, porém, há chance de problemas no futuro: se o acordo fizer água, o país dos aiatolás deve retomar seu programa atômico, e os riscos de um ataque aos EUA e a Israel aumentam. O relatório não cita a atual crise.
6) Erosão das instituições
O documento aponta a perda de credibilidade de instituições que sustentam sociedades pacíficas — governos, partidos, Justiça, meios de comunicação e instituições financeiras. Há preocupação com o crescente populismo, já vistos em episódios como o Brexit e a eleição de Trump nos EUA. O Brasil volta a ser citado nesse item: "A turbulência política resultante e a mudança para o autoritarismo em alguns países tornarão as políticas econômica e de segurança menos previsíveis", aponta o documento.
7) Protecionismo
Na linha do isolamento de algumas nações, como a política do America First de Trump, os consultores citam que os "muros estão subindo".
8) Reino Unido
O processo de saída dos britânicos da União Europeia ainda não foi definido e isso causa turbulências nos mercados globais. A consultoria aponta que uma eventual saída da primeira-ministra Theresa May pode significar a substituição por um ou uma chefe de governo ainda mais conservadora – o que complicaria ainda mais a retirada do bloco econômico.
9) Sul da Ásia
O Eurasia Group aponta como preocupação o crescimento do islamismo no Sudeste Asiático, o sentimento anti-chinês e nacionalismo indiano. A crise dos rohingya em Mianmar é citada como fator de desestabilização.
10) Segurança da África
Os consultores apontam o risco de expansão da instabilidade em países como Somália, Sudão do Sul e Mali para nações vizinhas, como Costa do Marfim, Nigéria, Quênia e Etiópia. Terrorismo é o principal fator de risco, por meio de grupos como o Al-Shabaab e braços da rede Al-Qaeda no continente.