O atual levante no Irã é o principal assunto internacional deste início de 2018 e tem potencial para sacudir as relações internacionais. O que está ocorrendo no país é histórico: uma eventual queda da ditadura dos aiatolás e a mudança de regime mudariam o equilíbrio de forças no Golfo Pérsico e alterariam a ordem mundial estabelecida a partir da Revolução Islâmica de 1979 .
Desde o início das manifestações, na quinta-feira passada, 21 pessoas morreram nos protestos. Há mais de 400 presos. Nesta terça-feira, o presidente americano, Donald Trump, colocou mais lenha na fogueira, chamando o regime iraniano de corrupto e brutal. Em sete tópicos, saiba por que é importante prestar atenção na crise.
1) O levante no Irã tem impacto direto na ordem mundial. Maior país do ramo xiita do Islã do mundo, tem a Rússia como principal aliado. Seu governo é regido por uma teocracia, uma ditadura religiosa comandada com mão de ferro pelo aiatolá Ali Khamenei, herdeiro do aiatolá Khomeini, que liderou a Revolução Islâmica, de 1979. O país disputa com a Arábia Saudita o posto de potência hegemônica no Golfo Pérsico. Por isso, o Irã envolve-se em conflitos externos – no Iraque e na Síria, por exemplo. Quer mostrar poder. Há anos o país mantém influência também no Líbano, financiando com dinheiro e armas o grupo Hezbollah – um partido político reconhecido na nação, mas considerado terrorista em nível internacional.
2) O Irã é o sétimo maior produtor de petróleo do mundo – ou seja, uma crise lá no país dos aiatolás mexe com o preço da gasolina que você usa no seu carro.
3) No final do século 20, o Irã foi um dos grandes antagonistas dos Estados Unidos, à época "O Grande Satã na visão xiita radical". A revolução liderada pelo aiatolá Khomeini derrubou o regime do xá Reza Pahlevi (apoiado pelos americanos). Foi implantada uma ditadura religiosa em seu lugar. Vivia-se o auge da Guerra Fria. Antes da revolução, o Irã era um país ocidentalizado e próspero. Khomeini implantou a ditadura, mergulhou o país no obscurantismo e fechou a nação para o mundo.
4) Este é o maior levante no Irã desde 2009, quando manifestantes saíram às ruas em protesto contra a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, político ultraconservador que, entre outras bizarrices, dizia que o Holocausto não acontecera. Os estudantes iranianos, de tempos em tempos, lideram os protestos por maior abertura. É uma geração cada vez mais conectada com o mundo. As manifestações costumam ser sufocadas por banhos de sangue comandados pelo regime.
5) O Irã dá passos largos rumo à abertura. A população, mais de 60% tem menos de 30 anos, já não é subserviente às ordens do regime. A eleição de Hassan Rouhani, um conservador moderado, em 2013, significou uma dura derrota para os ultraconservadores. Foi ele que fechou o acordo com os EUA para limitar as ambições nucleares. Desde então, o Irã passou a aceitar as inspeções de observadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
6) Não há uma liderança clara nesse movimento atual. Os protestos começaram em Mashhad, reduto conservador, incentivado por religiosos contrários ao moderado Rouhani. Ou seja, pode ser um protesto de fundo ultraconservador. Nos dias seguintes, as manifestações se voltaram contra o líder supremo, Ali Khamenei. Ou seja, a teocracia balança. E uma queda da ditadura seria um evento histórico.
7) E os EUA? Trump disse que o Irã tem fracassado em todos os níveis. A Casa Branca torce pela queda do regime, sem que precise mexer um dedo. Desde que assumiu, o republicano tem dito que não irá ratificar o acordo nuclear, negociado pelo antecessor Barack Obama e que ajudou a frear o avanço do programa atômico iraniano nos últimos meses. Nesta terça-feira, Trump pôs mais lenha na fogueira: chamou o regime do Irã de regime brutal e corrupto.