Durante 11 dias, o gaúcho Jonatan Diniz permaneceu incomunicável nos calabouços do regime de Nicolás Maduro, em Caracas. Seu caso mobilizou a família, em Balneário Camboriú (SC), o Itamaraty, funcionários da embaixada brasileira na Venezuela, a imprensa e organizações de defesa dos direitos humanos. Todos preocupados com a possibilidade de o rapaz, que teria ido ao país para fazer uma ação de Natal com crianças, ter sido morto ou torturado na prisão da polícia política bolivariana. A acusação, afinal, era grave: Jonatan estava sendo tratado pelo governo venezuelano como infiltrado pela CIA (agência de inteligência americana) para desestabilizar o regime.
Após pressão internacional e graças ao trabalho de diplomatas brasileiros, Jonatan foi libertado no sábado. Ao sair da prisão, negou-se a conceder entrevistas para dar sua versão, comunicando-se apenas por meio das redes sociais. Alegando motivos de segurança, manteve sua localização sob sigilo, mesmo quando já estava seguro onde mora, nos Estados Unidos. Em um post no Facebook, três dias depois de sua libertação, disse ter sido vítima de terror psicológico, deu detalhes da cela onde foi mantido e divulgou uma foto do suposto homem que o prendeu. Mas a verdade sobre sua detenção só veio a público na quarta-feira, quando, em um novo post no Facebook, admitiu ter premeditado sua prisão a fim de chamar atenção para o trabalho de sua ONG, a Time to Change the Earth (Hora de mudar a Terra).
— Se eu fui pra lá e eu fui preso é porque eu incitei ser preso. Eu sozinho não teria nenhuma voz, mas eu indo para a cadeia aconteceu exatamente o que estava nos meus planos — disse o ativista, em vídeo gravado nos EUA.
Em outras palavras, provocou a prisão. Saiu dos EUA, como admitiu, com essa intenção.
No vídeo, Jonatan ainda ataca a imprensa, dizendo que os jornais se concentraram nos detalhes relativos a sua prisão e não nas crianças que foi ajudar.
Ora, a prisão de um cidadão, seja venezuelano, brasileiro ou de qualquer nacionalidade, por conta de seu ativismo político, é condenável e merece a atenção da comunidade internacional. Mas, ao provocar o ato em troca de alguns dias de fama, o brasileiro usou das mesmas armas do regime político ao qual critica.
O caso de Jonatan mobilizou a imprensa, que chamou a atenção para a prisão e pressionou autoridades nacionais e internacionais a se envolverem, extraiu energia de diplomatas, pagos com o dinheiro público dos brasileiros, mas, acima de tudo, deixou por dias em pânico seus familiares, com os quais conversei algumas vezes desde sua prisão.
Felizmente, a "brincadeira" terminou bem. Sua libertação foi amplamente noticiada pela imprensa, o que mostra que, no jornalismo, não apenas "bad news is good news" (más notícias são boas notícias), ao contrário, aliás, do que Jonatan diz no vídeo. A crise na Venezuela exige diálogo e compromissos de governo, oposição e sociedade civil, e não atitudes voluntaristas e inconsequentes que apenas complicam mais o cenário de um país que se derrete como nação.