A família de Jonatan Moisés Diniz, gaúcho de Ijuí, recebeu nesta sexta-feira a confirmação por parte do governo da Venezuela de que o rapaz, desaparecido desde o dia 26 de dezembro, foi preso por autoridades locais.
Trata-se de uma boa notícia, comemorada pelo irmão de Jonatan, o comerciante Juliano Diniz, 34 anos, em entrevista por telefone à coluna no início desta tarde.
Durante 10 dias, a família de Jonatan, que mora em Balneário Camboriú, Santa Catarina, ficou sem notícias sobre o paradeiro do jovem. O rapaz estaria em uma das prisões do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), segundo relato da embaixada brasileira em Caracas.
Leia os principais trechos da entrevista de Juliano a ZH:
Como está a situação?
A gente acabou de receber uma notícia positiva, não definitiva, longe disso, mas positiva. A embaixada brasileira em Caracas acabou de receber os documentos do Jonatan, porque uma das razões principais (da prisão) era por ele ter entrado dos EUA para a Venezuela. A rixa deles com os EUA é muito maior do que com o Brasil, isso prejudicou demais o meu irmão. Além de ele ter colocado na internet críticas ao governo, críticas (às coisas) que ele via lá, tudo isso acabou prejudicando. Mas, agora, receberam lá os documentos do meu irmão e já conseguiram constatar onde ele está e conseguiram forçar o governo a assumir que prenderam ele.
Já assumiram?
Conseguiram isso hoje, graças a Deus. Estamos em contato direto com todo mundo, com o Itamaraty e com a embaixada em Caracas. Mandei os documentos para todo mundo. Eles entraram em contato com os órgãos oficiais da Venezuela e, pela primeira vez, abriram qual seria a preocupação e de onde veio a desconfiança de que ele pudesse ser um infiltrado da CIA (agência de inteligência americana) para roubar informações estratégicas. Eles publicaram isso no início. Meu irmão nunca participou de nada, não fazia sentido algum. Mas eles estavam desconfiados porque ele entrou dos EUA para lá e estava colocando coisas (na internet) que desagradavam o governo do (Nicolas) Maduro. Então, eles começaram a linkar as coisas e acharam que alguém tinha entrado lá para desestruturar o governo.
E onde o seu irmão está?
Ele está no Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional). Mas vi, aqui, que tem três prisões do Sebin. A gente vai precisar verificar ainda em qual deles está. Recebemos por volta das 8h a informação (horário de Brasília), ligaram oficializando. Pelo menos um passo grande positivo havia sido dado.
Até então vocês não tinham nenhuma informação?
Infelizmente, isso permanece. A gente não conseguiu conversar com ele nem garantir que está bem, de que está alimentado, porque não tem imagem, não tem nada. Pelo menos conseguimos que eles oficializassem a prisão para gente entrar com recurso. Direitos humanos, com advogados, não conseguiam entrar com nada porque eles (as autoridades venezuelanas) não reconheciam.
Jonatan entrou quando na Venezuela?
Meu irmão está com 31 anos e faz um bom tempo que ele leva a vida dele, a gente não tem plena consciência do que ele está fazendo. Mas, pelo que a gente constatou, foi por volta do dia 17, mais ou menos, que ele entrou. Ele foi para lá só para fazer uma ação de Natal das crianças, com doação de brinquedos e comida. Ele até conseguiu, mandou mensagem dizendo que tinha conseguido entregar café da manhã para 600 crianças. Estava eufórico. Muita gente chamava ele de louco por estar lá, com um governo desses, a coisa pegando fogo. Ele mandou mensagem dando uma debochada: "Ó, o louco aí... 600 crianças alimentadas, com brinquedos, todo mundo feliz". Eles tinham até conseguido um Papai Noel. No dia seguinte, cai isso (a prisão), uma bomba. Uma amiga dele ligou de madrugada informando que ele estava desaparecido, que achavam que ele tinha sido sequestrado, mas, na verdade, depois, a gente veio a descobrir que foi a polícia que o levou.
O Jonatan estava nos EUA há quanto tempo?
Acredito que em torno de dois anos. Mas ele viajou de lá para a Bolívia, rodou a América do Sul inteira. Sempre admirei isso nele, de meter a cara em países em conflitos.
Como foram esses 10 dias sem notícias do Jonatan?
Não aguentávamos mais a aflição, sem saber nada, sem nenhuma confirmação. A polícia lá estava dificultando o acesso, por mais que tivessem (o governo brasileiro) tentando (informações) não estavam conseguindo.
Vocês chegaram a pensar que havia acontecido o pior?
Claro. Infelizmente, a gente pensou. Pensamos porque não tínhamos notícias, não oficializavam. Ele tinha muitos amigos lá, esses amigos nos falavam: "Infelizmente, isso não é bom". Quando acontece aqui e não oficializam não é bom porque alguma coisa estão escondendo". Pensamos que eles pudessem ter feito já o pior e não queriam que saísse na mídia. Estavam tentando esconder de algum jeito que tinham feito algo. Mas, graças a Deus, a princípio, parece que não.
O que vocês planejam fazer agora? Viajar para Caracas?
A gente teve uma conversa com o senador José Medeiros. Ele esteve com uma comissão em Caracas, e, dentro da van, foram parados por motoqueiros com metralhadoras. Conseguiram se safar. Ele disse: "Olha, a última coisa que vocês devem fazer é ir para lá".