Três dias depois de sua libertação e expulsão da Venezuela, o gaúcho Jonatan Diniz voltou a usar as redes sociais para dar a sua versão sobre o episódio de sua prisão, em Caracas, no dia 26 de dezembro.
O jovem diz ter sido preso enquanto bebia cerveja com amigos por um homem à paisana que aparece em uma foto divulgada pelo próprio Jonatan. Na prisão, afirma ter sido obrigado a ficar nu na frente dos demais detentos e diz ter sido vítima de terror psicológico.
Natural de Ijuí, o rapaz fazia uma ação de Natal no país. Foi preso, segundo o governo de Nicolás Maduro, acusado de ser infiltrado da CIA (agência de inteligência americana). Passou 11 dias detido no Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência), polícia política do regime venezuelano. Foi libertado no sábado graças à intervenção do Itamaraty. Ele tem se negado a conceder entrevistas, comunicando-se com os veículos de comunicação apenas por redes sociais. No domingo, em um rápido contato com a coluna, disse apenas que estava bem.
Abaixo trechos do relato de Jonatan no Facebook.
O momento da prisão
Acredito que fui preso no dia 26 de dezembro enquanto estava com amigos bebendo cerveja na praia por um homem que falou que trabalhava para a polícia, mas estava à paisana, me tirou da praia me ameaçando com a arma, tirou meus dois relógios que usava e os repassou como penhora na conta do bar já que o mesmo não me deu a chance de eu pagar minha conta, meu óculos de sol roubaram nesse rolo todo.
Ele fez diversas acusações falsas a meu respeito dizendo que eu era da CIA, que eu estava lá usando fotos de crianças da Venezuela para ganhar dinheiro a custa de outros, que era mentira que eu tinha chego com a America Airlines na Venezuela.
Cela com oito venezuelanos
Enfim, me prenderam na sede do SEBIN (Polícia tática da Venezuela) chamada se não me engano de "Latin" que ficava muito perto do aeroporto de Maiquetía. A cela tinha aproximadamente 8 metros quadrados, compartia a mesma com mais 8 venezuelanos e me fizeram ficar nu não sei quantas vezes e com quantos celulares tiraram fotos minha, inclusive mandaram ficar nu na frente de todos os detentos sem a mínima lógica na noite que cheguei. (obs: ninguém me abusou sexualmente e nem me agrediram fisicamente). O chefe geral do lugar falou para todos os detentos que eu tinha ligação com Oscar Perez e o grupo da Resistência na Venezuela (mais uma falsa acusação) para incentivar os presidiários a me odiar, já que os mesmos são contra os atos de Oscar Perez.
A comida na cadeia
De 11 dias preso, me deram comida somente 2 ou 3 dias, os outros 8 presos que estão lá há quase 3 anos não recebem nenhuma comida, tendo que a família deles viajar todos os dias para levar algo para eles sobreviverem e foi da comida de meus colegas de cela que me alimentei, porque se fosse depender do SEBIN eu tava fu... Nos 11 dias, jamais me deixaram sair da cela nem para 10 minutos de sol, quando saia, era para assinar mais papeladas e como sempre ser chamado de "estafador e agente da CIA".
A rotina na prisão
Nos 11 dias não pude receber visita, fazer chamada ou nenhuma outra coisa. Tentaram colocar terror psicológico falando que eu poderia ficar lá tanto 1 como 1.000 dias, que ninguém havia me procurado e que ninguém nem se quer sabia de minha prisão. Como eu estava preso e sem contato, simplesmente ouvi e deu. Dormíamos em 6 pessoas em colchões no chão e mais 3 em um triliche caindo aos pedaços... O vaso, sanitário era na cela sem privacidade alguma e não existia chuveiro, banhávamos em um cantinho com pote e depois secávamos o local, fazer as "necessidades" tinha que ser na frente de todos e o cheiro nem sempre era dos melhores por a cela ser muito pequena e com tanta gente e quase nenhuma ventilação. Em contrapartida o lado suave da história é que tínhamos televisão e muitos filmes para passar o tempo e meus companheiros de cela eram pessoas muito humanas e queridas, faço minhas orações para que eles encontrem suas liberdades logo.
A libertação
Um dia antes de me soltarem, quando fui ao SAIME (órgão público que faz documentos Venezuelanos e estrangeiros) obrigado a assinar minha expulsão do país por infelizmente 10 anos, foi que tive conhecimento que meu nome estava na internet e que o caso tinha tomado grandes proporções. No dia seguinte mudaram meu voo do Brasil para EUA porque alegaram que eu deveria voltar de onde eu vim e não de meu país de origem, decidiram isso de última hora, não foi minha opção.
Retorno aos EUA
Tomei meu voo direção Miami e logo direção Los Angeles, guardei segredo de minha localização simplesmente porque evito aparecer na televisão ou dar qualquer entrevista.