O século 20 foi pródigo em carniceiros de gente: Adolf Hitler, Josef Stalin, Slobodan Milosevic. Esses morreram sem serem julgados ou condenados pela Justiça. Milosevic chegou a ir para uma cela do Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, mas morreu em 2006 de infarto sem nunca pagar pelos crimes que cometeu. Por isso, o julgamento do sérvio-bósnio Radovan Karadzic, condenado nesta quinta-feira a 40 anos de prisão por crimes contra a humanidade, é tão emblemático.
Os juízes de Haia o consideram responsável pelo genocídio na cidade de Srebrenica, em 1995, e pelo cerco a Sarajevo, entre 1992 e 1996, que resultaram, no total, em 20 mil mortos. Na guerra como um todo morreram mais de 100 mil.
Um dos maiores fugitivos de guerra – ele passou 13 anos solto –, período em que usou disfarces, nome falso e teve sua cabeça colocada a prêmio pelos Estados Unidos (no valor de US$ 5 milhões) -, Karadzic foi capturado em 2008 em Belgrado. Ao longo de anos de julgamento, o mais difícil foi comprovar que havia uma ligação direta entre os executores dos massacres e o comando do líder sérvio-bósnio. Como no filme Spotlight, que revelou como a cúpula da Igreja Católica acobertou os crimes de padres pedófilos –, o mais difícil no caso da investigação sobre os crimes da Bósnia foi seguir a cadeia de comando. Autor de sua própria defesa, Karadzic sabiamente utilizou como método alegar que "não sabia" o que estava acontecendo. Disse que os massacres foram cometidos por indivíduos que atuaram por sua própria conta, sem seguir ordens suas.
Não adiantou. Ficou comprovado que Karadzic, o carniceiro da Bósnia, orquestrou uma campanha de destruição e de limpeza étnica da população não-sérvia num capítulo infame do final do século 20.