Nem sei por que estou lembrando (ou melhor, sei bem por quê) dos versos inesquecíveis que foram bordão de toda a carreira de Francisco Alves, o Rei da Voz.
Os versos desta canção lendária tiveram autoria de Silvino Neto. Ei-la:
Adeus, adeus, adeus,
Cinco letras que choram
Num soluço de dor.
Adeus, adeus, adeus,
É como o fim de uma estrada
Cortando a encruzilhada,
Ponto final de um romance
de amor.
Durante cerca de 50 anos, Francisco Alves esculpiu no imaginário musical brasileiro esta pérola de canção.
Vejam como ela termina:
Quem parte tem os olhos
rasos d’água
Ao sentir a grande mágoa
Por se despedir de alguém.
Quem fica também
fica chorando
Com o coração penando,
Querendo partir também.
Da minha parte, tenho muita dificuldade para me despedir de alguém.
E, na verdade, tenho também grande embaraço ao me despedir de objetos que foram caros na minha afeição.
Verto lágrimas quando me despeço de uma pessoa, amada ou querida, assim como verto lágrimas quando me despeço de uma caneta, de um par de chinelos ou de um amigo.
Não consigo me despedir, sem chorar, de alguém a quem me afeiçoei, mas também estremeço quando me despeço de uma casa de onde vou me mudar, de um quarto de casa de onde vou me mudar, de uma rua, de uma empresa. Chorei quando bati a última coluna numa máquina de datilografia e ingressei no mundo dos computadores.
Para mim, despedir-me de um objeto ou de um instrumento que usei durante muito tempo não tem diferença de despedir-me de alguém com quem trabalhei, com quem convivi diariamente no trabalho, ou despedir-me, o que me aconteceu concretamente, de uma mulher que tinha sido mãe de meus dois primeiros filhos.
O mais constrangedor momento da vida de uma pessoa é quando ela tem de despedir-se de alguém ou de algo.
Como diz a canção que reproduzi acima, despedir-se de alguém é ver um pedaço da gente mesmo indo embora com a pessoa partinte.
* Crônica publicada em 26/11/2014