Poucas coisas irritam tanto quanto a monotonia das propostas nas campanhas para prefeito. É sempre um deserto de ideias. Só de imaginar que, daqui a dois meses, teremos candidato falando de novo em cercamento eletrônico, ou escola em tempo integral, ou informatização dos sistemas de saúde, já sinto meu coração palpitar em desespero.
Não que esses temas devam ser ignorados, não é isso, mas a enxurrada de obviedades deixa o debate tão pobre. Raramente surge um enfoque novo, um esforço de raciocínio que surpreenda, algum projeto que revele uma consulta séria às cidades mais bem-sucedidas do mundo. Nada parece se aproximar de uma ideia.
Tenho dúvida se o problema é mesmo a mediocridade ou se é o tal do marketing eleitoral – que impede todo mundo de arriscar uma palavra capaz de contrariar qualquer eleitor de alguma classe existente entre as letras A e Z. Mas essa dúvida, entre marketing e mediocridade, deve se desfazer na campanha que vem aí.
Porque o assunto do ano – a enchente que nos engoliu – só pode ser enfrentado com ideias. Ou os candidatos trazem as suas, ou vão atestar sua inaptidão. Essa é uma pauta nova demais para permitir que alguém fique repetindo a mesma ladainha das campanhas anteriores – que é o que os candidatos se habituaram a fazer em quase todos os outros assuntos. Só que agora temos um assunto que nunca entrou nas campanhas anteriores.
Como melhorar efetivamente o nosso sistema de proteção? E como proteger, além da cidade por trás do muro, os armazéns históricos do Cais Mauá? Que adaptações a cidade precisa fazer, seja nas áreas verdes, na malha asfáltica, na gestão de resíduos, na frota de ônibus, para enfrentar com maturidade os efeitos do clima? Quais serão os protocolos de prevenção, desde os treinamentos para evacuar até o mapeamento dos locais de abrigo?
Precisamos de novas políticas de habitação, sustentabilidade, urbanismo, assistência social, infraestrutura. E precisamos de candidatos que pesquisem, consultem especialistas, conheçam experiências de fora, apresentem caminhos que nos inspirem segurança. Em resumo, desta vez não há como escapar: precisamos de ideias.