A intenção do prefeito até pode ser boa – ele prometeu endurecer a lei contra os receptadores –, mas a verdade é que a situação saiu do controle. Sebastião Melo talvez consiga ajudar, mas não vai resolver sozinho a onda de ataques a cabos elétricos que ameaça parar (sim, parar) Porto Alegre.
Só nos semáforos, foram mais de 9 mil metros de fiação furtada nos três primeiros meses do ano. Nunca se viu nada parecido: o número supera a quantidade de fios surrupiados ao longo de 2022 inteiro. No início de março, a Capital chegou a ter 54 sinaleiras desligadas ao mesmo tempo – na semana passada, ainda eram 20. Já seria o suficiente para se preocupar, mas os transtornos vão muito além disso.
Parques como a Redenção, o Parcão e o Marinha, além de quadras inteiras no interior de bairros, mergulham em escuridão à noite por causa do furto de cabos. Outro serviço afetado é o trensurb, que suspende a operação sempre que alguém afana os fios do sistema de sinalização. Mas o impacto mais assustador talvez tenha ocorrido há 10 dias, quando 279 mil pessoas ficaram sem água, na Zona Sul, após uma investida contra a fiação de uma estação de bombeamento.
Não custa lembrar que o problema já era alarmante no ano passado. A falta de providências enérgicas, no entanto, não só permitiu que a situação piorasse como impôs à cidade uma pergunta dramática: qual será o próximo inconveniente? Câmeras fora do ar? Internet cortada? Hospitais sem luz? Interrupção do tráfego aéreo?
Alguém dirá que a pena para os ladrões é muito branda, o que é verdade, mas eles são apenas a ponta mais frágil de uma rede de delinquência bem mais complexa. Sebastião Melo está correto ao propor sanções severas para quem comprar o material furtado. Ainda assim, não vai adiantar muito se a Polícia Civil, instituição que realmente sabe investigar, não conseguir desbaratar o esquema todo – e, para isso, a Secretaria da Segurança Pública do Estado precisa vir a público informar que essa é uma prioridade.
Só a Polícia Civil pode responder quem está por trás dos receptadores, para onde vai a fiação arrancada, quanto estão faturando a ponto de quase inviabilizar uma metrópole. A meta precisa ser a prisão dos figurões, não dos trombadinhas. Em resumo: ou as autoridades acabam com o furto de cabos, ou o furto de cabos acaba com Porto Alegre.