Já estão nas mãos do secretário estadual de Parcerias, Leonardo Busatto, as mais de mil páginas que detalham todo o modelo de parceria público-privada (PPP) para a revitalização do Cais Mauá.
Os estudos – que incluem orçamento das obras, expectativa de lucros para o futuro investidor, projeto arquitetônico, relatórios de engenharia, modelagem jurídica e as minutas do edital de licitação e do contrato – foram entregues na semana passada pelo Consórcio Revitaliza, grupo selecionado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) para fazer a estruturação do negócio.
– Assim que terminarmos a análise técnica desse material, que deve se estender por duas semanas, vamos levar ao governador (Eduardo Leite). Nossa intenção é começar ainda em fevereiro a fase de consultas públicas: toda a comunidade poderá tirar suas dúvidas e fazer sugestões, inclusive empresas interessadas na PPP – avisa Busatto.
Em resumo, o modelo prevê a concessão do Cais Mauá à iniciativa privada por 35 anos – o prazo só foi definido agora. Nesse período, o grupo vencedor da licitação poderá explorar a área comercialmente, ocupando os armazéns com empreendimentos voltados para gastronomia, lazer, cultura e eventos. A principal exigência, ao menos nessa primeira versão do edital, é que o investidor conclua todas as obras de revitalização, avaliadas em R$ 300 milhões, nos primeiros três anos.
– Esse pode ser um impeditivo – avalia um empresário do ramo imobiliário, embora diga ter interesse em estudar o projeto.
A coluna ouviu quatro representantes do setor e concluiu que existem, sim, boas chances de surgirem interessados na licitação prevista para o meio do ano. Mas o alto investimento em tão pouco tempo, de fato, preocupa. Vale lembrar que, para fazer o negócio valer a pena, a PPP terá um atrativo de luxo para os candidatos: quem vencer a concorrência receberá a propriedade definitiva do terreno das docas, situado na extremidade norte do cais, perto da rodoviária.
Ali, em uma área hoje abandonada, isolada atrás dos trilhos do trensurb, o empreendedor poderá erguer nove torres residenciais e corporativas, vender os apartamentos e faturar na casa do bilhão.
– Mas é uma receita a longo prazo: como o mercado tem uma capacidade limitada de absorção, as construções precisam ocorrer em etapas. Levaria uns 15 anos para todas as torres ficarem prontas nas docas. Só que o investimento nos armazéns eles querem de uma vez só – diz o diretor de uma incorporadora.
De qualquer forma, os entrevistados entendem que o ambiente para investir à margem do Guaíba hoje é muito mais favorável do que há poucos anos. Primeiro, porque o modelo de concessão do Cais Mauá – ainda que possa receber pedidos de ajustes quando a consulta pública começar – finalmente para em pé. Segundo, porque o novo plano diretor do Centro Histórico dá mais liberdade aos empreendedores. E, terceiro, porque a Orla enfim virou a sensação da cidade.