O anúncio de que o secretário municipal de Mobilidade Urbana, Luiz Fernando Záchia, não permanecerá no cargo em 2022 confirma que o transporte coletivo é o calcanhar de aquiles do governo Sebastião Melo.
Um ano atrás, poucos dias antes de assumir a secretaria, Záchia havia concedido uma entusiasmada entrevista à coluna. Defendeu projetos inovadores, prometeu uma gestão disruptiva à frente da pasta e assegurou:
– Não vim para fazer a mesmice.
Confesso que me empolguei. Porto Alegre precisava mesmo – e ainda precisa – da coragem que Záchia pregava para reformular o nosso arruinado sistema de transporte coletivo. Mas a curta trajetória dele como secretário foi frustrante. Inclusive para ele próprio: na segunda-feira (13), Záchia disse à colunista Rosane de Oliveira que não estava feliz no cargo.
Faz sentido. O secretário atravessou boa parte do ano tentando emplacar, sem sucesso, uma proposta que Nelson Marchezan já havia apresentado. Era a Taxa de Mobilidade Urbana: todas as empresas com sede em Porto Alegre, em vez de pagar vale-transporte aos seus funcionários, passariam a contribuir com um valor mensal à prefeitura. O projeto tinha potencial para derrubar o preço da passagem, mas Melo considerava a proposta prejudicial aos empreendedores.
Záchia também defendia a taxação dos aplicativos de transporte, o que sempre me pareceu razoável – empresas como a Uber têm 40 mil veículos usando a malha viária da cidade, mas não recolhem sequer ISS em Porto Alegre. O prefeito, e principalmente o vice-prefeito, sempre foi contra tributar os aplicativos. Outras ideias do secretário, como restringir o estacionamento em via pública, nem começaram a ser debatidas.
Em resumo, nenhum projeto realmente estrutural, capaz de garantir dinheiro para financiar o sistema de transporte coletivo, avançou neste primeiro ano de governo. Enquanto isso, o serviço continua péssimo e a passagem deve ficar ainda mais cara nos próximos meses. A saída de Záchia reforça que, ao menos por enquanto, nenhuma solução se avizinha.