O governo Melo, se tudo der certo, será uma das gestões com maior volume de investimentos da história de Porto Alegre. O objetivo é aplicar US$ 1 bilhão ao longo dos quatro anos de mandato – o que, em reais, dá mais de 5 bilhões. E estamos falando só de obras novas: não entram nessa soma as pendências da Copa, por exemplo.
É evidente que, se a meta for batida, o mérito maior será do prefeito. Aliás, ele já tem o mérito de ter boas ideias engatilhadas – não adianta ter dinheiro se não houver bons projetos. E os planos para o Centro Histórico, o 4º Distrito, a Avenida Farrapos, a Voluntários da Pátria, o Arroio Dilúvio e a Orla do Guaíba – para ficar apenas em obras mais urbanísticas – são, de fato, animadores. Ponto para Melo.
Mas o prefeito sabe que as vacas gordas só chegarão à cidade graças a outro personagem: seu antecessor, Nelson Marchezan. Foram medidas antipáticas do governo anterior que agora permitem a colheita de bons frutos. Afinal, toda essa dinheirama, US$ 1 bilhão, virá por meio de financiamentos – ou seja, o município, claro, não tem esses recursos, que precisarão ser emprestados por instituições internacionais.
A questão é que, durante anos, Porto Alegre ficou impedida de solicitar empréstimos. Com as finanças em colapso, era considerada uma má pagadora: em uma escala de A até D, o Tesouro Nacional dava nota C para a capacidade de pagamento da Capital. Neste ano, com base nas contas municipais de 2018, 2019 e 2020, veio a nota A.
Significa que a cidade, agora, além de financiar investimentos, pode fazer isso a juros mais baixos, com as melhores condições de pagamento possíveis. Concorde-se ou não com Marchezan, foram medidas implementadas por ele que garantiram esse fôlego ao município. E o preço foi alto: para cada medida, houve uma briga.
O aumento da alíquota previdenciária dos servidores, por exemplo, levou manifestantes a invadir o plenário da Câmara. E o corte nos benefícios acirrou ainda mais os ânimos do funcionalismo. Ao reajustar o IPTU, Marchezan perdeu apoio no empresariado e na classe média. Aliás, a população inteira torceu o nariz quando ele suspendeu serviços básicos, como varrição e tapa-buraco, para revisar todos os contratos com fornecedores.
Decisões impopulares, às vezes indigestas, mas que hoje surtem um efeito promissor. Melo entrará para a história se realmente investir US$ 1 bilhão em quatro anos. Vai merecer todos os aplausos, mas talvez deva agradecer a quem preparou o terreno.