Queriam derrubar a termelétrica para construir a Avenida Beira-Rio. Era final dos anos 1970 e aquela usina desativada estava caindo aos pedaços à beira do Guaíba. Mesmo assim, a sociedade se organizou, protestou e o governo recuou: mudaram o traçado da avenida para preservar o prédio e a chaminé.
Decidiu-se, depois de muita discussão, que ali seria um centro cultural – mas só em 1991 ele seria aberto ao público. Mesmo após a inauguração, nunca houve uma estrutura realmente profissional naquele espaço, com adaptações e equipamentos necessários para receber grandes eventos. Um projeto mais profundo, estrutural de verdade, avança somente agora, com as obras que devem ficar prontas em fevereiro de 2022.
O fato é que a Usina do Gasômetro, embora com algum improviso, trouxe uma pulsação cultural sem precedentes à Capital. Da Bienal do Mercosul ao Fórum Social Mundial, passando por eventos musicais, espetáculos teatrais e exposições internacionais, o prédio erguido em 1928 fez de Porto Alegre uma cidade vibrante nas décadas de 1990 e 2000.
Quer dizer: a expectativa agora é inevitável – se mesmo com precariedades a usina recebeu visitantes e artistas do mundo inteiro, imagine agora, com instalações modernas e bem equipadas, com a Orla do Guaíba já urbanizada do lado esquerdo, com os primeiros empreendimentos do Cais Mauá pipocando do lado direito.
Não há dúvida de que será um dos centros culturais mais palpitantes do país. E tudo começou naquela mobilização dos anos 1970, que impediu a derrubada do Gasômetro. Era o embrião de uma sociedade que redescobria sua real vocação: viver a cultura de frente para o Guaíba. Isso é Porto Alegre. E a usina será só uma pequena, embora essencial, parte da nova era que se avizinha.