Intrometidas em pontos tradicionais da cidade, duas intervenções artísticas chamaram atenção na semana passada – e mostraram que Porto Alegre, hoje, é melhor do que já foi.
Na Redenção, como a coluna publicou na quarta-feira (16), uma escultura de ferro e palha, com 12 metros de comprimento e três de altura, foi instalada em frente ao Monumento ao Expedicionário. Já no Largo dos Açorianos, uma centena de barquinhos de papel, cada um levando uma vela, flutuou nas águas do lago homenageando as vítimas de covid.
Não há dúvida de que a arte, quando ocupa a rua, torna qualquer cidade mais interessante. Mas o contrário também é verdade: uma cidade interessante é fundamental para estimular a arte. Porque uma cidade interessante, antes de mais nada, tem espaços públicos qualificados, que oferecem bons cenários, que atraem pessoas, que despertam criatividade.
O Largo dos Açorianos, por exemplo, atravessou anos jogado às traças, abandonado e desprezado: quem se sentiria instigado a interagir com aquele ambiente? Mas, após uma longa reforma, o Açorianos retornou exuberante em 2019, com espelhos d'água, jatos ornamentais, cascata, arquibancadas, iluminação cênica, tudo isso valorizando a histórica Ponte de Pedra – um verdadeiro monumento à memória da cidade.
Um espaço público assim, inspirador e atraente, estimula surpresas como barquinhos que flutuam com velas, ou esculturas que levam imprevisibilidade às caminhadas do dia a dia. Porto Alegre, ao revitalizar espaços simbólicos – como o Açorianos, a Redenção, a Orla e o Centro Histórico –, aos poucos vai deixando de ser uma das capitais mais horrorosas do país para retomar uma identidade própria.
Claro que ainda há muito o que melhorar. Mas não dá para negar que já melhorou.