Não podia ser melhor a notícia de que os professores, a partir desta terça-feira (1º), finalmente começam a ser vacinados em Porto Alegre. Isso já deveria estar ocorrendo há tempo no país inteiro – não porque a medida beneficia os professores, mas porque beneficia todos nós.
Esse é o único critério justo para priorizar um grupo de pessoas: o retorno que a sociedade vai ter. Os profissionais de saúde, por exemplo, por que eles foram os primeiros imunizados? Não é porque estão mais expostos, é porque a sociedade precisa deles. Se um médico ou um enfermeiro ficar doente, ele vai se afastar do trabalho por três semanas, o que é péssimo – quanto mais gente saudável houver no combate ao vírus, melhor para todo mundo.
E os idosos, por que receberam a vacina antes? Porque é o grupo que mais desenvolve casos graves da doença, ou seja, que mais sobrecarrega os hospitais, que mais ocupa leitos de UTI. Quando eles são vacinados, portanto, a chance de o sistema de saúde colapsar diminui –o que, de novo, é o melhor para todo mundo.
Os interesses da sociedade, da coletividade precisam estar na frente – e o caso dos professores passa justamente por aí. Nada é mais importante para uma nação do que o investimento nos jovens, nas crianças, no futuro do país. A retomada das aulas, portanto, não pode ser um movimento inconsistente e aventureiro que mantém sobre as escolas uma sombra de incerteza. Precisa ser uma medida sólida, completa e bem-estruturada.
O problema é que a discussão sobre o ensino presencial, como tudo no Brasil, enveredou para uma politização idiota. Um lado diz que as aulas devem voltar, o outro diz que não poderiam voltar, e quase ninguém discute o principal, que é como voltar. Como os protocolos serão seguidos. Como a estrutura precária da rede pública pode dar conta. Como aumentar a sensação de segurança dos alunos, dos pais e dos professores.
Uma das respostas para essa última questão é óbvia: vacinando quem dá aula – o que já deveria ter ocorrido. Boa parte dos alunos mal têm almoço em casa, que dirá computador para ensino remoto. São inúmeros os relatos de mães que, com as escolas fechadas, gastaram dinheiro deixando os filhos com cuidadores – em geral, casas de família que recebiam grupos de crianças com protocolos de higiene e distanciamento muito piores do que em qualquer colégio.
As aulas presenciais são uma necessidade social. E, para que elas prossigam sem tanta instabilidade, precisamos de professores sadios e dispostos. Vaciná-los não é um privilégio para eles, é uma vitória para nós.