Não é tão pouco: já são 40 propostas de pequenos comerciantes ou cidadãos comuns querendo restaurar espaços e equipamentos públicos de Porto Alegre. É gente se oferecendo para pintar banco, adotar pracinha, consertar brinquedo, plantar flores, arrumar canteiro, essas coisas. Neste link tem o formulário.
Lançada há dois meses pela prefeitura, a campanha promete acabar com a burocracia para quem se dispuser a cuidar da cidade: antes, o cidadão ligava para um órgão, que mandava ele falar com outro, que solicitava autorização de um terceiro, que nunca mais dava retorno – uma violência com quem queria ajudar.
– Agora é tudo centralizado. Temos uma pessoa deslocada só para isso, para fazer todos os encaminhamentos e garantir que a coisa aconteça – diz a secretária municipal de Parcerias, Ana Pellini.
Entre as propostas já enviadas, grande parte vem de mercadinhos e comércios de bairro – ao adotar uma área pública, eles podem instalar uma placa informando que o estabelecimento é "parceiro da cidade". Isso já existe em pontos tradicionais da Capital – do Parcão à Praça da Encol –, mas a ideia é alcançar espaços em recantos menos badalados de Porto Alegre.
– Aliás, a gente percebe que nos locais onde tem essas placas, mostrando que alguém adotou a área, parece que a conservação do lugar dura mais tempo – avalia a secretária.
Por que as pessoas tendem a cuidar mais de praças com placas dizendo que ela é adotada
Faz todo o sentido. Porque aquele espaço, na cabeça das pessoas, passou a ter um "dono". Claro que, oficialmente, o adotante nunca vai ser dono de uma área pública – o dono somos nós. Mas, em países subdesenvolvidos como o nosso, o problema passa justamente por aí: não se enxerga o espaço público como um lugar que pertence a todos, mas como um lugar que não pertence a ninguém.
Quando uma placa avisa que existe um guardião por ali, uma pessoa que realmente se importa com o local, a coisa muda de figura: o olhar da comunidade passa a ser mais benevolente – e o comportamento destrutivo perde força. Ainda mais quando o guardião é alguém próximo: o proprietário do armazém, ou o seu Joaquim, ou a dona Eusébia. Quem teria coragem de maltratar um lugar cuidado pela dona Eusébia?
Claro, a prefeitura não pode transferir a responsabilidade sobre a manutenção do espaço público para a população. Mas pedir uma mãozinha não faz mal nenhum.