Depois da reunião desta quinta-feira (22) com o governador Eduardo Leite, na qual defendeu novas flexibilizações em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo telefonou para a coluna: a intenção era esclarecer os argumentos que usou no encontro. No mesmo dia, mais cedo, este espaço havia criticado Melo por sempre tentar, independentemente dos números da pandemia, afrouxar as restrições o máximo possível.
– Em primeiro lugar, é importante lembrar que, quando o sistema de bandeiras começou, não havia vacina. E hoje Porto Alegre tem quase um terço da população vacinável (com mais de 18 anos) imunizada com a primeira dose – comentou o prefeito, ressaltando que qualquer decisão precisa levar em conta esse novo cenário.
Ele também disse ter parafraseado Machado de Assis (1839-1908) na reunião com Leite: para o escritor carioca, havia o Brasil real e o Brasil oficial. O mesmo ocorre com a capital gaúcha, segundo Melo. Ao visitar uma vila no bairro Bom Jesus, por exemplo, o prefeito conta ter visto crianças jogando futebol no meio da rua – o irônico era que, bem na frente delas, havia um ginásio esportivo impedido de abrir as portas.
– Não faz sentido isso. Outro exemplo: ontem (quarta-feira, 21) ficamos até tarde trabalhando na prefeitura e, no final, os secretários queriam jantar em um restaurante. Não puderam por causa do horário, mas, se esse mesmo grupo quisesse se reunir na casa de um deles, sem nenhum protocolo, aí poderia. Por que em casa pode e em restaurante não? – questionou Melo.
Outra situação da Porto Alegre real, conforme o prefeito, se materializa com as creches fechadas. Pais e mães de baixa renda, para poder trabalhar, vêm deixando os filhos com vizinhos, amigos ou parentes, muitas vezes em residências sem condições de adotar distanciamento ou procedimentos de higiene.
– Já as creches, que têm alvará sanitário e preparo para receber essas crianças, não podem reabrir. Está errado – contesta Melo.
Na avaliação dele, em vez de restringir atividades, o Rio Grande do Sul precisa avançar em testagem e rastreamento dos infectados. Ao chegar a um shopping, por exemplo, qualquer cliente tem a temperatura verificada: se estiver acima de 37,5ºC, ele é apenas impedido de entrar. O prefeito defende que essa pessoa com temperatura elevada faça o teste de covid ali mesmo. Caso dê positivo, começaria um rastreamento dos locais por onde o infectado passou e das pessoas com quem teve contato.
– Mesma coisa com funcionários de hotéis, comércio, restaurantes. Testa todo mundo, uma vez por semana, e rastreia os positivados – sugere Melo.
Mas quem vai rastrear? Quando isso começa? Qual será o papel da prefeitura nesse processo? Segundo o prefeito, tudo está em discussão no comitê que debate as medidas contra o coronavírus no governo municipal. Vamos aguardar – mas que não demore muito.