Com a aceleração da ocupação dos leitos de UTI, que assusta hospitais e já inflama vereadores de oposição, o prefeito Sebastião Melo reforça que as atividades econômicas seguirão abertas em Porto Alegre. Ele acredita que a piora dos números ocorre por conta das aglomerações no litoral gaúcho.
– Nós reabrimos o comércio com muita responsabilidade, temos combatido as festas clandestinas e os bares que promovem aglutinações, mas a praia virou uma gandaia – diz o prefeito.
Segundo ele, portanto, as pessoas estariam se contaminando no Litoral e transmitindo o vírus para familiares ou amigos. Os infectados, então, independentemente de viverem ou não na Capital, acabariam sendo internados em Porto Alegre. Em reunião com a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, Melo pediu nesta semana que parem de enviar pacientes do Interior.
– Quase 75% de quem ocupa os leitos clínicos vem de fora. Somos solidários com o Rio Grande, nós somos a Capital, existem mais UTIs aqui, mas o Rio Grande também precisa ser solidário com a Capital – defende o prefeito.
Nas últimas duas semanas, o número de internados em UTIs de Porto Alegre saltou de 274 (no dia 2) para 316 (no dia 16). Nesta quarta-feira (17) à noite, eram 310. O infectologista André Luiz Machado, do Hospital Conceição, diz que a taxa de ocupação de leitos, tanto em UTIs quanto em enfermarias, "é semelhante somente ao que vimos em junho do ano passado", período mais crítico da pandemia.
– E o mais preocupante é que, se naquele momento as pessoas tinham medo e respeitavam as medidas de distanciamento, agora esse temor parece ter desaparecido – analisa André Luiz.
Ele entende que, para evitar o colapso no sistema de saúde, o prefeito já deveria pensar em medidas para reduzir a circulação de pessoas – afinal, o movimento deve aumentar dentro de 10 dias, quando a cidade retoma sua rotina pós-veraneio. Já o epidemiologista Jair Ferreira, consultor do Hospital de Clínicas, tem outra impressão:
– Houve um crescimento bastante abrupto nas internações, o que certamente nos preocupa, mas estamos longe de um colapso.
Segundo o prefeito, se a situação continuar se agravando, objetivo é abrir mais 60 leitos de UTI nos próximos dias
Na avaliação dele, o Rio Grande do Sul ainda tem uma boa margem de leitos – muitos foram desativados quando a pandemia arrefeceu e poderiam ser novamente colocados à disposição. O epidemiologista também entende que, por enquanto, não há como relacionar novas variantes do coronavírus ao aumento das internações:
– Não há casos suficientes para afirmar isso. E a hipótese de que as pessoas estejam se contaminando no litoral, uma região frequentada para fins recreativos, é plausível.
Segundo o prefeito Melo, se a situação continuar se agravando, o objetivo é abrir mais 60 leitos de UTI nos próximos dias.