Nos últimos dias, a ocupação dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) nos hospitais da Capital para tratamento de pacientes diagnosticados com coronavírus aumentou consideravelmente, chegando a 81% na terça-feira (16). O agravamento da pandemia fez inclusive com que o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) decidisse cancelar cirurgias e internações eletivas.
Em entrevista à Rádio Gaúcha na tarde desta quarta-feira (17), o diretor da rede hospitalar da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), João Marcelo Fonseca, comentou sobre a elevação no número de casos confirmados e de internações na Capital. Segundo ele, a SMS está percebendo com bastante preocupação esse rápido aumento:
— Nos últimos dias, a gente percebeu uma aceleração dessa demanda de pacientes graves com covid para UTI e também para leitos de enfermaria. Alguns outros fatores nos alertaram para uma mudança do padrão de comportamento da doença na cidade.
O diretor ressaltou que a população precisa ter consciência de que existe a possibilidade de uma cepa mais infecciosa do coronavírus estar circulando em diversas localidades do Brasil e que, apesar de não haver comprovação de casos no Rio Grande do Sul, também existem indícios que convergem para essa hipótese. Além disso, afirmou que outras cidades do Estado estão apresentando um padrão diferente daquele que os hospitais estavam habituados nos últimos meses.
— Isso, para nós, é um indício, ainda não confirmado, de uma possível cepa viral diferente. O que torna ainda mais crucial que as pessoas entendam a necessidade de usar máscara, higienizar frequentemente as mãos e, principalmente, evitar aglomerações — disse ele.
Fonseca enfatizou ainda que se realmente há uma cepa mais transmissível, mesmo que não traga maior mortalidade, ela fará com que mais pessoas fiquem doentes ao mesmo tempo, o que pode acarretar em uma quantidade maior de pessoas precisando de internação hospitalar e em uma possível falta de leitos na rede de saúde.
Até 10 de fevereiro, o número de casos confirmados em UTIs da Capital oscilava entre 250 e 270. A última atualização desta quarta-feira apontava para 310 pacientes com coronavírus, além de outros 38 com suspeita. Questionado sobre quais medidas a secretaria estaria tomando em relação a esse aumento, o diretor garantiu que a mudança na velocidade de apresentação dos casos fez com que todas as autoridades sanitárias ficassem em alerta:
— Tanto a Vigilância Estadual de Saúde quanto a Municipal estão tomando várias medidas, buscando rastreio de casos que eventualmente se apresentem nas emergências tendo chegado de viagem de outros Estados do país e que possam estar contaminados por cepas diferentes, além do rastreio genômico, que é o encaminhamento de amostras dos pacientes para fazer a genotipagem.
Fonseca explicou, no entanto, que o exame de genotipagem é bastante complexo e leva dias para ficar pronto, além de não ser feito em todos os lugares, já que são poucos os locais do país que têm a condição técnica para fazê-lo. Ele afirmou ainda que isso já está sendo encaminhado, mas, como levará alguns dias, é essencial que as pessoas já comecem a redobrar os cuidados e ter máxima atenção.
Já em relação a um possível colapso no sistema de saúde, Fonseca salientou que Porto Alegre é uma das capitais do Brasil melhor providas de um sistema hospitalar de alta complexidade, contando com hospitais universitários e uma estrutura bastante robusta de equipamentos e profissionais. Entretanto, segundo ele, a pressão no sistema já estava alta e a chegada de uma cepa de alta transmissibilidade poderá ser um fator de desequilíbrio:
— Estamos partindo de um patamar alto, não vínhamos nas últimas semanas com menos de 85% ou 87% de ocupação das UTIs. Então, uma aceleração em poucos dias do número de casos, demandando internação hospitalar de alta complexidade sobre um sistema que já vinha com uma ocupação alta, é um fato preocupante.
O diretor relatou ainda que a regulação de leitos estadual e municipal está mantendo contato contínuo com os hospitais da cidade, orientando-os a buscar, se possível, a ampliação de leitos de UTI e de enfermaria, e avaliando a suspensão dos procedimentos eletivos. Essa medida fará com que novos leitos sejam disponibilizados para pacientes com covid-19.