Recém-vacinado contra a covid-19, o oncologista Drauzio Varella falou nesta quarta-feira (17) sobre a situação do Plano Nacional de Imunização diante da escassez de doses de vacinas, que fez com que diversos municípios suspendessem a vacinação. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, ele ressaltou que a situação se agrava ainda mais com o comportamento da população.
Nos últimos dias, cenas de aglomerações no feriado de Carnaval se espalharam pelo país. No Rio de Janeiro, conforme mostrou o portal Uol, a Secretaria de Ordem Pública (Seop) chegou a encontrar um convite de divulgação de uma festa, marcada para a última segunda-feira (15), que contava com uma foto do médico, acompanhada da frase: "Saudades de uma ‘segunda certa’, né minha filha?".
— Nós precisamos de vacina. É tão claro. Não temos capacidade de produção dessas vacinas a curto prazo no Butantan e na Fiocruz. Precisamos agora. Tem muita gente morrendo e por uma causa evitável. Temos uma população que não colabora de jeito nenhum. Temos visto aglomeração por todos os lados — disse.
— Eu não acho que a precariedade do sistema educacional explique o que está acontecendo. Eu vejo essas imagens nas praias, no Rio Grande do Sul, no Rio, em São Paulo, de pessoas de classe média alta, de gente que teve boa formação. Eu acho que é uma falta de cuidado com a sociedade, são pessoas egoístas, egocêntricas — opinou.
No Rio Grande do Sul, aglomerações e festas clandestinas com centenas de pessoas foram registradas tanto na Capital quanto em municípios da Região Metropolitana e Litoral Norte. Mesmo com ação da Brigada Militar (BM), as praias de Atlântida e Capão da Canoa registraram quatro noites seguidas com eventos sem permissão durante o Carnaval.
Para Drauzio Varella, a situação também é um reflexo de ações do presidente Jair Bolsonaro diante das medidas de isolamento social:
— Logo que começou a epidemia ficou claro quais medidas eram: uso de máscara e evitar aglomeração. O que fez o presidente naquele momento? Fez o oposto a isso. Ele saiu dando exemplo, aglomerando as pessoas, desmoralizou essas medidas no nascedouro delas. Se criou no país uma situação, por um lado os médicos falando que não podiam, por outro lado o presidente aglomerando sem máscara, que é o que ele faz até hoje. Se você tem uma liderança agindo dessa maneira, você vai esperar que a sociedade aja de maneira oposta?— indagou.