O prefeito Sebastião Melo tenta convencer o governador Eduardo Leite a manter a chamada cogestão. Ou seja, embora esteja em bandeira preta, Porto Alegre seguiria as restrições da bandeira vermelha: não precisaria, portanto, fechar o comércio e os restaurantes a partir de terça-feira (23), como a bandeira preta determina.
– Fui eleito para isso, para assumir responsabilidades, para participar das decisões. E estou convencido de que o comércio regular aberto nunca foi culpado pelo aumento das internações – afirma Melo, que conversou com Leite por telefone no início da tarde de sábado (20).
A decisão do governador sai na segunda-feira (22). Embora a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) defenda a suspensão da cogestão – com o governo estadual definindo as regras sozinho –, Melo diz que a maioria dos prefeitos da Região Metropolitana quer autonomia.
Faz sentido. Em cidades menores, é natural que os prefeitos exijam maior participação do Estado, porque a proximidade do governante com a comunidade é muito estreita. Quando uma medida mais drástica se faz necessária, por exemplo, as prefeituras têm dificuldade para suportar a pressão – legítima – de empresários, comerciantes e políticos. E qualquer morador contrariado pode ir à casa do prefeito reclamar.
Por isso, uma possibilidade é o governador adaptar a bandeira preta conforme a realidade de cada região. Em Porto Alegre, Melo defende a ampliação da oferta de leitos, o que já vem ocorrendo, além do rigor no combate às festas clandestinas e às aglomerações em frente a bares. Somado a isso, as medidas restritivas que a bandeira vermelha impõe – com limitações de horário e de lotação nos estabelecimentos – seriam suficientes.
O problema é que, quando a aceleração das internações é rápida demais, abrir leitos pode ser enxugar gelo. Nunca serão abertos leitos suficientes, nem na velocidade necessária, se a demanda for irrefreável e desgovernada. A única saída, neste caso, é reduzir a circulação de pessoas. O que ainda falta é saber o tamanho dessa redução.