Esse cara, não tenho dúvida, fazia a cidade mais feliz. As pessoas sorriam detrás do volante quando o Malabarista Prateado iniciava o show: ele esperava o sinal fechar, posicionava uma banqueta embaixo da sinaleira e, lá do alto, atirava para cima três cones de trânsito. Cada apresentação durava um minuto, na esquina da Ipiranga com a Silva Só.
De uns tempos para cá, não há banqueta nem cone mais. Robson Costa Cruz, 31 anos, hoje caminha entre os carros erguendo um cartaz: "O corona não me pegou, mas a dispença das crianças sim". Ele mantém o corpo pintado e a expressão simpática – agora por trás de uma máscara, também prateada –, mas precisou largar o malabarismo.
– Ninguém mais abria o vidro – conta Robson.
E, se ninguém abre o vidro, ele não ganha dinheiro. O problema, claro, é a pandemia: as pessoas passaram a ter medo de interagir na janela com quem anda na rua. Antes da chegada do vírus, Robson ganhava até R$ 150 por dia. Depois, começou a ganhar R$ 30. Não dava mais para sustentar a casa, no Campo da Tuca – onde ele vive com a esposa, Natiele, e com a filha de três anos, Rhillary.
– O cartaz foi meu jeito de mostrar o que o vírus fez com a gente – explica Robson.
E a situação melhorou. Motoristas agora param na sinaleira com arroz, feijão, massa, fraldas, roupa, leite, e assim ele vai tocando o malabarismo da vida. Diz que é desconfortável, que nunca tinha feito nada parecido:
– Gosto de ser reconhecido pelo meu talento. Pedir ajuda assim, sem oferecer nada em troca, não me dá muito orgulho. Mas o pessoal entendeu e tem me apoiado.
Fazia 18 anos que Robson vivia como artista de rua. Começou a passar tinta no corpo para mostrar que, ao contrário do que poderiam pensar, nunca gastou em drogas o dinheiro que lhe davam – preferia investir no próprio trabalho. Diz que não sabe (e não quer) fazer outra coisa da vida:
– Eu sou o Prateado. Não vejo a hora de voltar ao trabalho.