A onda de solidariedade que se espalhou rápido como o vírus parece ter ficado para trás. Após seis meses de pandemia, as doações despencaram na mesma velocidade que haviam crescido.
Entidades filantrópicas e projetos sociais reclamam do engajamento cada vez menor da população e apelam para que as pessoas voltem a doar. Para se ter uma ideia, a Associação Brasileira de Captadores de Recursos – que monitora arrecadações em todo o país –, informa que o número de doações caiu 91% entre maio e agosto.
– O brasileiro respondeu bem a uma emergência, mas aquele senso de urgência foi diminuindo. É preocupante, porque não adianta doar em um mês e achar que está resolvido. Tem muita gente precisando de doações recorrentes – diz Márcia Woods, presidente da associação.
Um exemplo local é o Banco de Alimentos de Porto Alegre (doealimentos.com.br). A organização, que distribui comida para 300 instituições da Capital, havia arrecadado 500 toneladas em março. Em agosto, o saldo despencou para 100 toneladas – uma queda de 80%. Paulo Renê Bernhard, presidente do Banco, diz que esse recuo não chega a ser uma surpresa:
– Com a crise econômica, muitas empresas não conseguiram manter as doações. Sabíamos que isso poderia acontecer.
Faz sentido. Mas, quando se fala em pessoas físicas, e não em empresas, há uma impressão geral de que a sociedade se habituou à tragédia. Adriano Panazzolo, um dos fundadores da startup Moeda do Bem (moedadobem.com.br), conta que conseguiu levantar, em março, 475 doações, somando R$ 63 mil. Agora, em agosto, foram 48 doações – pouco mais de R$ 5 mil.
– Não sei se caiu na mesmice, se as pessoas ficaram acostumadas, ou se estão inseguras em relação ao próprio futuro. Só sei que a necessidade, hoje, é maior do que no início da pandemia – afirma Adriano, que arrecada recursos, por meio da Moeda do Bem, para cinco projetos sociais.
Para quem puder, a dica é escolher uma instituição e fazer doações com débito em conta até o fim do ano.
Mesmo iniciativas que atendem comunidades mais específicas, como o Pão de Irmão para Irmão (bit.ly/paodeirmao), que atua na Restinga, vêm sofrendo com a situação. Cinquenta famílias a menos receberam ajuda nos últimos meses.
– Também precisamos reduzir o tamanho das cestas com alimentos e kits de higiene – lamenta o jornalista Fábian Chelkanoff Thier, idealizador do projeto.
Para quem puder, a dica é escolher uma instituição e fazer doações com débito em conta até o fim do ano – porque muita gente vai seguir precisando. Ou, quem sabe, programar um lembrete no celular para o dia em que o salário entrar. São formas de não deixar a solidariedade sair de moda.
Com Rossana Ruschel