Tarso Boelter, ex-presidente do PP em Porto Alegre, não é alguém que toparia ajudar o prefeito Marchezan. Pelo contrário: um fala mal do outro sempre que pode. Justamente por isso, Boelter é a mais surpreendente entre as testemunhas que a defesa de Marchezan decidiu convocar. O depoimento dele à comissão de vereadores que analisa o processo de impeachment está previsto para as 14h de quinta-feira.
Por quê? Qual é o sentido em chamar para depor um cidadão que, claramente, não vai com a sua cara? No mês passado, por exemplo, Boelter divulgou um vídeo falando em "falta de vergonha", "arrogância" e "arbitrariedade" por parte do prefeito – os ataques sobraram até para a primeira-dama. Era uma resposta a Marchezan.
Nos últimos tempos, o chefe do Executivo tem mencionado o nome de Boelter para argumentar que, no governo atual, "a prefeitura saiu das páginas policiais". Para quem não lembra, Tarso Boelter era diretor-geral do DEP, na gestão Fortunati, quando o órgão afundou em corrupção – ele, que sempre se disse inocente, e outros sete servidores foram denunciados pelo Ministério Público.
Ao escalar Boelter como testemunha, Marchezan quer exatamente isso: mostrar que escândalo, mesmo, é o que ocorreu na administração passada. E por que, naquela época, não houve investigação dos vereadores? Por que não houve CPI? Por que não houve pedido de impeachment, já que Procempa, Fasc e Carris também mergulharam em denúncias? Essas são as perguntas que a defesa do prefeito deixará no ar.
Até porque, na estratégia da defesa, as perguntas serão mais importantes do que as respostas que Boelter vai dar. A intenção, antes de tudo, é expor uma suposta contradição dos próprios vereadores – que estariam, agora, articulando a derrubada de Marchezan por motivos que nada teriam a ver com o combate a irregularidades. Seriam interesses eleitorais, segundo o prefeito.
A defesa deve lembrar, por exemplo, que Boelter, mesmo após as suspeitas no DEP, foi trabalhar na Câmara com uma vereadora que agora defende o impeachment. Ou seja: se a preocupação fosse ética, essa mesma vereadora contrataria um homem que liderou um órgão público sob suspeita de corrupção? É o que o advogado de Marchezan vai perguntar.