Nunca o bugio-ruivo, espécie ameaçada de extinção que habita a zona sul de Porto Alegre, sofreu tanto como agora. Com o avanço do desmatamento em bairros como Lami, o macaquinho se aproxima cada vez mais da cidade – e os casos de agressões, atropelamentos e ataques de cães aumentam sem parar.
Só em 2020, até o mês de agosto, já foram 19 bugios encaminhados à clínica Toca dos Bichos, onde o projeto Voluntários da Fauna atende gratuitamente animais silvestres há mais de três décadas. Para se ter uma ideia, no ano passado inteiro, haviam sido 14 bugios atendidos, número que já era considerado acima da média.
O dado chama atenção, segundo a veterinária Marina Anicet, porque os atendimentos costumam decolar em setembro – já que na primavera os bugios tendem a transitar mais, em busca de parceiros para reprodução. Dos que chegaram à Toca dos Bichos em 2020, conforme Marina, 11 tinham sinais de agressão (em 2019, foram apenas três nessa situação).
– Eles chegam com trauma, lesão neurológica e, em alguns casos, não sabemos ao certo se foram atacados por cães ou levaram pauladas – diz a veterinária, que costuma receber os animais das mãos de soldados do Batalhão Ambiental, de agentes da prefeitura ou de cidadãos comuns.
Outros bugios foram encontrados órfãos, vítimas de choque elétrico ou de atropelamento. Em resumo, o fenômeno ocorre porque o habitat dos macacos vai perdendo espaço com o desmatamento – os animais são obrigados, assim, a avançar sobre a cidade. Empreendimentos e ocupações irregulares na Zona Sul seriam os principais causadores do problema.
– Sabemos que há casos em que os moradores têm medo e batem para afugentá-los, mas tem gente que dá paulada gratuitamente. É bem triste – lamenta Gleide Marsicano, diretora e fundadora da Toca dos Bichos.
Com Rossana Ruschel