Você talvez já tenha visto, em frente à sede da AABB, na Coronel Marcos, uma espécie de ponte de corda e cano cruzando a avenida a oito metros de altura.
Essa é a mais fácil de enxergar, mas, nos últimos tempos, com o avanço do desmatamento – e com animais silvestres cada vez mais acuados –, travessias assim surgem com maior frequência na zona sul de Porto Alegre. Entre as 15 instaladas desde o fim dos anos 1990, cinco foram nos últimos dois anos – e outras quatro devem ser construídas nos próximos dois meses.
– O desmatamento interrompe o que a gente chama de corredor ecológico, que é a sequência de árvores por onde os bugios se deslocam – explica a bióloga Márcia Jardim, do projeto Macacos Urbanos, que ergue as pontes pela cidade em uma parceria com a prefeitura.
Segundo Márcia, o aumento nas travessias se deve especialmente a um plano nacional pela preservação do bugio-ruivo – espécie em extinção que, sem os corredores ecológicos, acaba descendo dos galhos. E aí os macacos, ao atravessar as avenidas, ficam expostos a atropelamentos e a ataques de cães.
A situação mais crítica fica nas imediações da Reserva Biológica José Lutzenberger, no Lami. Dez das 15 pontes estão lá –duas ficam em cima da Estrada Otaviano José Pinto. Ocupações irregulares e empreendimentos do Minha Casa Minha Vida seriam os principais fatores para o desmatamento na região.
– É muito triste, porque as pontes só podem ser usadas pelos animais quando existe, depois delas, uma continuidade de árvores. Então, às vezes nem conseguimos instalar – diz a bióloga Maria Carmen Bastos, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
Questionada pela coluna, a secretaria informou que monitora a situação da reserva do Lami: a pasta já emitiu autos de infração por supressão de vegetação, instalação de loteamento sem licença e depósito irregular de resíduos. Por enquanto, não tem adiantado muito.